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Entrevista a Pedro Carrilho, Founder do atelier Pedro Carrilho – Arquitectos

Entrevista a Pedro Carrilho, Founder do atelier Pedro Carrilho – Arquitectos

Começamos pelas apresentações e para isso pedíamos-lhe para sugerir uma obra que seja representativa do vosso trabalho?

Talvez a obra que melhor reflete o nosso trabalho dos últimos anos será a Reabilitação do Edifício Rua da Prata 249, que hoje é uma unidade hoteleira de charme.

Um projecto complexo, no centro histórico da cidade de Lisboa e com presença marcante no traçado urbano, que reflete o rigor e competência da nossa equipa.

Rua da Prata 249, fotografia por Francisco Nogueira
Rua da Prata 249, fotografia por Francisco Nogueira

Onde estão sedeados? Quais as áreas de especialização? E qual a dimensão da equipa?

Estamos sedeados em Lisboa, no Parque das Nações, com uma equipa de 6 arquitetos em permanência. Somos um atelier muito vocacionado para a área da reabilitação urbana, com grande know-how na intervenção em edifícios de várias épocas e sistemas construtivos diferenciados. Nos últimos anos temos, também, sido desafiados para projetos de raiz, na região de Lisboa e Cascais, para habitação unifamiliar.

Gandarinha 1, render por Estúdio 11 Archviz
Gandarinha 1, render por Estúdio 11 Archviz

Quais as principais características que marcam as vossas obras?

Acima de tudo o rigor e o empenho que colocamos em cada projeto, refletindo-se no decorrer da obra e no resultado final. Gostamos de acompanhar todo o processo desde a conceção até à conclusão da obra, privilegiando uma relação de confiança com o cliente.

Consideramos que o respeito pelo património e pelo Lugar faz parte da nossa prática, tendo sempre como propósito valorizar o pré-existente para devolve-lo à cidade, numa lógica de continuidade com a envolvente ao invés de uma linguagem de rotura.

Edifício Morais Soares 157, fotografia por Francisco Nogueira
Edifício Morais Soares 157, fotografia por Francisco Nogueira

E, entre os projetos mais emblemáticos do vosso portfólio, quais destacariam?

Ao longos dos últimos anos realizamos vários projetos que nos deram grande satisfação. Destacaria, sobretudo, projetos em lugares singulares como o projeto na rua do Açúcar, no Beato, a converter em lofts; o edifício da rua da Prata, na Baixa Pombalina; ou a intervenção na rua Morais Soares com a reabilitação de um edifício habitacional em gaveto. No contexto das obras novas, a moradia unifamiliar em Cascais, na Gandarinha, é um projeto que nos desafiou em termos criativos pela dificuldade do lote e a proximidade com os edifícios envolventes.

Edifício Açúcar 24-50, render por Estúdio 11 Archviz
Edifício Açúcar 24-50, render por Estúdio 11 Archviz

Cumprido um ano desde a chegada da Covid-19, qual têm sentido o impacto da pandemia no mercado da arquitetura? E, especificamente, na prática do vosso atelier?

Têm sido tempos de aprendizagem e adaptação constante, felizmente tínhamos e temos condições que nos permitiram continuar a trabalhar no escritório ou em teletrabalho sem qualquer problema. Desta forma conseguimos garantir prazos e acompanhar todos os processos, tanto nos municípios como de apoio às obras.

Houve, naturalmente, um período de ajustamento a um novo contexto de trabalho, mas que agora podemos afirmar estar perfeitamente preparados para uma nova forma de trabalhar e comunicar.

Também pela nossa experiência, estamos a sentir que o mercado da habitação está a mudar, o conceito da habitação e de vivencias está a ajustar-se naturalmente a uma nova forma de viver, onde os conceitos pré-existentes são questionados.

Somos agora abordados para desenvolver, com mais frequência, projetos habitacionais únicos, onde as famílias procuram uma casa desenhada à medida, com varanda ou jardim, com áreas espaçosas em detrimento da centralidade e proximidade da cidade. Hoje o conceito de teletrabalho generalizou-se em grande parte das profissões. É um conceito que acredito tenha vindo para ficar.

Atualmente, quantos projetos têm em carteira (em que setores e em que localizações)? E quais as perspetivas ao nível de novas encomendas para este ano?

Estamos com vários projetos em curso, alguns numa fase de conceção, outros já em início de construção como o edifício de apartamentos na rua do Açúcar. Ainda temos alguns em fase de aprovação pelas entidades responsáveis. Entre as diversas fases, estamos a acompanhar cerca de 20 projetos em simultâneo.

Os nossos projetos são, na sua maioria, habitacionais na área de Lisboa. Temos, também, nas áreas de Cascais e Almada; e alguns projetos díspares de equipamentos e serviços para entidades públicas como por exemplo a requalificação de uma quinta agrícola em Vila Franca de Xira.

Olhando para o estado atual do mercado imobiliário e da construção, onde identificam o maior potencial de crescimento em Portugal?

Portugal atingiu um nível de atratividade global inegável. Acredito que o interesse pelo nosso país se mantenha muito forte no futuro.

Na minha opinião, as oportunidades no mercado da habitação continuarão a surgir. Talvez com maior impacte nas regiões periféricas dos grandes centros, onde a qualidade de vida pode ser bastante interessante. Em paralelo, é importante que não se perca a atividade da reabilitação dos nossos centros que dependem, em muito, do potencial turístico permitindo continuar a recuperar estes tecidos históricos.

Amoreiras 43, fotografia por Francisco Nogueira
Amoreiras 43, fotografia por Francisco Nogueira

Nesta fase, o mercado continua muito voltado para a reabilitação e a regeneração urbana. A seu ver, qual é o papel do arquiteto nesse processo que, afinal, é uma prioridade a nível nacional?

É e deve ser entendida como tal, como prioridade nacional. Mais do que construir novo é necessário continuar a recuperar os nossos tecidos urbanos sempre com base no conceito de desenvolvimento sustentável.

Muita coisa tem sido feita nos últimos anos, felizmente, mas cada intervenção tem de ser pensada numa escala, não só de bairro, de cidade, indo mais longe, de território onde cada dinâmica interessa num pré e pós projecto. Conceitos como a mobilidade, interligação cidade-periferia, manutenção e requalificação devem ser integrados num processo de reabilitação. Parte de nós, arquitetos, avaliar a forma, a extensão e quantificar as intervenções.

Outra questão-chave e que é cada vez mais incontornável é a sustentabilidade do edificado, não só do ponto de vista energético, mas também ambiental e social. Como é que a arquitetura deve contribuir para este desígnio?

Desde a fase de conceção e de projeto de cada intervenção torna-se fundamental uma avaliação do tipo de materiais e, consequentemente, dos tipos de sistemas construtivos. Estes devem ser pensados para incrementar os níveis de habitabilidade e salubridade, no fundo o nível de qualidade de vida, e em simultâneo ter em conta a vertente ambiental na construção, práticas e desempenho dos edifícios para uma coadunação com as perspetivas ambientais para a descarbonização deste sector.

E, tendo em conta o estado atual do parque edificado nacional, quais devem ser as prioridades para o tornar mais sustentável?

A discussão é como tornar a reabilitação – logicamente mais complexa e dispendiosa quando é profunda - sustentável, não apenas a nível ambiental mas também a nível económico, tornando-a mais atrativa para os investidores.

Esse exercício cabe aos arquitetos, procurar por soluções técnicas e estratégias de intervenção inovadoras que permitam alavancar este tipo de projeto. O resultado da intervenção deve ser coerente, razoável e duradouro englobando todas as vertentes da sustentabilidade mencionadas.

Quando prescreve os materiais de construção, que características tem em consideração?

Diria que existem três conceitos fundamentais na seleção dos materiais de construção: certificação ambiental em referência ao ciclo de vida do produto, eficiência energética e eficácia construtiva, e durabilidade/resistência de forma a reduzir as operações de manutenção; tendo sempre em conta o custo e qualidade do produto.

Outras questões de interesse?

Como temos vindo a focar nesta entrevista um ponto chave para nós é de facto a sustentabilidade.

Neste tempo de pandemia tivemos a oportunidade e a preocupação também de nos centrarmos em nós e no nosso modus operandi. Estabelecemos metas e objetivos profissionais, e compreendemos que existem métodos de trabalho novos e capazes de nos apoiar nesta nossa forma de trabalhar sustentável. Desta maneira estamos a investir numa transição para metodologias BIM, que consideramos efetivar o trabalho em equipa, entre todas as especialidades, coordenando de forma mais eficaz todos os aspetos que temos vindo a focar e amadurecer neste atelier.

Equipa Pedro Carrilho Arquitectos, fotografia por Francisco Nogueira
Equipa Pedro Carrilho Arquitectos, fotografia por Francisco Nogueira

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