Semana RU

Reabilitar visando o equilíbrio entre património e exigências de conforto



                      Reabilitar visando o equilíbrio entre património e exigências de conforto
Um debate sobre o que classifica uma reabilitação de excelência.

Reabilitar é um trabalho complexo. Dar uma "nova vida" a um património arquitetónico é uma tarefa árdua. O que distingue uma reabilitação de excelência? No período da manhã do segundo dia da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa, foram apresentados casos de estudo que estão por detrás de algumas das obras já premiadas pelo PNRU, na conferência "Reabilitação de Excelência – Os vencedores do Prémio Nacional RU".

A Napolitana

Rui Pombo, Knowledge Manager da A2P Estudos e Projetos, apresentou o primeiro caso de estudo da sessão: a reabilitação do complexo industrial da antiga fábrica de massas A Napolitana. A obra arrancou em 2022, sendo que o complexo industrial vai ser transformado numa escola internacional. A proposta arquitetónica passava pela «reabilitação dos edifícios existentes e a sua ampliação, adaptando-as às novas funções de escola», salientou Rui Pombo.

Palácio Faria

Vencedor da categoria de melhor reabilitação Residencial do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2020, o Palácio Faria foi «o primeiro projeto de reabilitação urbana de habitação concluído pela EastBanc», indica Tiago Eiró, CEO da EastBanc.

O objetivo era «devolver ao palácio a sua dignidade original que estava bastante alterada», salienta o responsável, acrescentando que «foi mantida a imagem e as dimensões originais do edifício, a recuperação dos elementos construtivos e arquitetónicos, sendo que 70 a 80% do edifício foi preservado». Tiago Eiró aponta o projeto como um «ícone na praça do Príncipe Real».

266 Liberdade

O 266 Liberdade nasce da reabilitação de um dos edifícios mais icónicos da cidade de Lisboa, o edifício do Diário de Notícias, na Avenida da Liberdade. Foi vencedor de duas categorias do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2021, nas categorias Residencial e Cidade de Lisboa. Houve um «respeito pela arquitetura e por toda a volumetria do edifício, numa reabilitação que devolveu ao edifício o seu esplendor original: restaurando as fachadas com a preservação de todos os elementos marcantes».

Os projetos apresentados são um exemplo

Na mesa-redonda de debate, João Carlos dos Santos, Diretor Geral da DGPC assinala os projetos apresentados como «um exemplo». O «equilíbrio entre preservação patrimonial e as exigências de conforto está patente», reforçando que «nem sempre é fácil conciliar a defesa dos valores patrimoniais com todos os outros aspetos»

Para João Carlos dos Santos «temos que, cada vez mais, caminhar nesse sentido, de encontrar um equilíbrio». Atenta ainda para um aspeto «muito difícil»: a inclusão de novos sistemas nas infraestruturas destes edifícios. Neste sentido, destaca a a reabilitação do Palácio Faria e do 266 Liberdade, que são «dois casos muito particulares deste aspecto».

“O desafio maior é agarrar no programa do promotor e adequá-lo ao espaço a reabilitar”

No ponto de vista de Susana Gomes, COO da Contacto Atlântico, «o desafio maior é agarrar no programa do promotor e adequá-lo ao espaço a reabilitar. É um desafio imenso e constante. Vamos trabalhando lado a lado para chegarmos a uma boa opção». Sabendo de antemão que o tempo do promotor imobiliário é “curto”, conciliá-lo com os “tempos do património” ou os “tempos do licenciamento”, torna-se «muito complicado», porém a responsável esclarece que «quando entramos nestes processos, estamos todos muitos conscientes do que estamos a fazer e do que temos à frente. São situações difíceis, pois há a interligação de muitas entidades, mas temos trabalhado em conjunto constantemente».

Licenciamentos

Ao ser questionado sobre o tema do licenciamento urbano, João Carlos dos Santos deu «a resposta que dou sempre: há um crescimento bastante grande, todos os anos, dos processos que entram para ser avaliados. Damos o parecer dentro dos prazos que temos».

O responsável considera «curioso», pois normalmente «dizem sempre muito mal da entidade, mas nós não sentimos, de maneira nenhuma, responsabilidade. Os processos que entrarem na plataforma, nós temos 20 dias para dar um parecer. Não é só a Direção Geral, são todas as entidades que são consultadas».

João Carlos dos Santos revela que «o nosso desafio é ter um rácio de 100% de aprovação dos projetos, isso era o ideal, significaria que estaríamos todos a trabalhar excelentemente, quer promotores, quer projetistas». Acrescenta que hoje já fazem um «trabalho prévio» com os projetistas, e com todos, algo que é fundamental: «o diálogo entre projetistas, promotores e entidades que intervêm neste processo do licenciamento, um passo que, em si, é muito importante».

“Perceber o que o cliente deseja e quais são os desafios para o concretizar”

Manuel Brites, Owner da ECOCIAF, explicita que «temos como prioridade perceber o que o cliente deseja e quais são os desafios para o concretizar, para, assim, resolvermos e trabalharmos em conjunto para tornar real o projeto que foi idealizado pelo nosso cliente».

O responsável denota ainda que «a escassez que existe no mercado, cria desafios permanentes às nossas equipas. No mercado não existe qualidade e quantidade para satisfazer a procura, que tem sido crescente nos últimos anos». Para uma reabilitação de excelência, Manuel Brites realça a importância de «equilibrar da melhor maneira as exigências da reabilitação com aquilo que é o respeito pelo património».

“Obriga-nos a trabalhar melhor e a reinventar”

Pedro Tomás, Chefe de Vendas Centro Sul da Fassa Bortolo, atenta para a dificuldade que é «acompanhar a vontade da indústria, do projeto, e das exigências do património». Não obstante, «isso obriga-nos a trabalhar melhor, em parceria com as entidades construturas, mas também com as entidades de património. Neste sentido, obriga-nos a reinventar no que diz respeito aos novos materiais que produzimos para acompanhar o mercado, quer seja com matérias-primas novas, matérias-primas mais competentes e amigas do ambiente, mudando o nosso processo de fabrico, na forma como produzimos os nossos materiais», acrescenta.

O responsável salienta a importância de «dar à última barreira da obra uma solução que, efetivamente, permita que este seja realizável»

José Borges, CBC, Vogal da Direção do GECoRPA – Grémio do Património, refere que a intervenção a ser feita «prende-se sobretudo com a questão de intenção: do enquadramento do eixo social e histórico e do enquadramento de paisagem urbana ou não urbana, tendo sempre respeito pela realidade pré-existente». Para uma reabilitação de excelência, o responsável aponta para um «respeito muito grande pela identidade do edifício».

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