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Reabilitação urbana é oportunidade para uma sociedade mais inclusiva

Reabilitação urbana é oportunidade para uma sociedade mais inclusiva

Os projetos de reabilitação urbana podem e devem ser uma oportunidade para criar uma cidade e uma sociedade mais inclusivas, e para conseguir um habitat mais completo. Esta foi uma das principais conclusões da conferência “Um habitat inclusivo – Necessidades e soluções”, que se realizou a 7 de abril, parte da agenda da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa assume-se apostada na criação de um habitat inclusivo. Durante esta conferência, Ana Vitória Azevedo, administradora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, destacou que «as soluções e projetos da SCML passam pela inovação e pela tecnologia, tendo em conta a idade, a intergeracionalidade, a inovação, as incapacidades ou as doenças degenerativas», sempre com o objetivo de «promover a qualidade de vida das pessoas, apoiar a cultura, a saúde o ensino», apoiando «os mais desprotegidos».

A responsável apresentou alguns projetos da SCML neste sentido, de que é exemplo o Recolhimento de Santos-o-Novo, que vai recuperar este imóvel, e onde será criada uma residência sénior e outra de estudantes, em parceria com o ISCTE, com espaço para várias atividades sociais e culturais. A ideia e «criar uma comunidade e uma família».

Outro exemplo é a antiga fábrica da Nestlé em Monsanto, que se vai transformar num complexo dedicado à saúde mental, nomeadamente às demências, que «tem pouca oferta de equipamentos que deem resposta às necessidades». Esta unidade vai integrar o Plano Regional de Saúde para as demências na região de Lisboa e Vale do Tejo, e vai dar suporte aos cuidadores informais e às famílias deste tipo de doentes. Terá até 50 camas, vários tipos de quarto, apoio domiciliário, consultas de acompanhamento ou formação de cuidadores.

A SCML está também a trabalhar na criação de uma residência de estudantes com mobilidade reduzida, «baseada na inovação e na tecnologia, com software de domótica associado», que pode acolher também estudantes sem limitações de mobilidade, mas que promete facilitar a vida de quem os tem.

Ana Vitória Azevedo conclui que «a SCML está empenhada no desenvolvimento deste tipo de projetos, que vão ao encontro da sua missão de promoção de melhor qualidade de vida dos seus públicos».

Helena Lucas, diretora do departamento de Gestão Imobiliária e Património da SCML, destacou que «a SCML tem sido muito atenta às necessidades do mercado e de quem mais precisa, e procuramos isto na reabilitação. Temos pouca construção nova, o nosso grande objetivo é reabilitar».

Lisboa: uma cidade inclusiva?

Inês Jardim Sequeira, diretora da Casa do Impacto, destacou neste debate que «Lisboa não é uma cidade muito inclusiva, o espaço público tem de ser mais pensado para as pessoas, envolvendo as pessoas quando se pensa o espaço público». Considera que «a pandemia mostrou-nos que o paradigma de cidade vai mudar nos próximos anos, muito provavelmente», e salientou a importância de prever tendências, e não apenas reagir às mesmas.

«As soluções para as pessoas mais velhas também têm de ser inovadoras, por uma questão de intergeracionalidade e diversidade, por exemplo para quem já não tem família biológica», afirmou Stella Bettencourt Câmara, professora no ISCSP da UL. Acredita que as respostas atuais «não são suficientes. Temos edificado, mas muitas vezes não pensamos nas pessoas. Não bastam instalações quando depois faltam recursos humanos».

Por seu turno, Ana Penim, Thinking Partner de Executivos da YouUp, destacou a importância da comunicação, que «tem de ser pensada antes, durante e depois, para uma sociedade com mais longevidade e diversidade. Temos de estudar não só as formas de comunicar, mas também os públicos».

Habitação tem de ser adaptável a qualquer fase da vida

Susan Cabeceira, CEO da Konceptness, lembrou que «temos de viver em espaços adaptados à nossa vida», e que muitos de nós «não vamos conseguir entrar nas nossas casas se nos acontecer alguma coisa», já que «em 90% das portas não passa uma cadeira de rodas».

Mesmo que não aconteça nenhum acidente de percurso, «depois dos 65 anos as pessoas podem estar perfeitamente funcionais e têm de ter uma habitação adaptada a essa fase da vida, e os espaços adaptados a qualquer fase da vida não têm de ser feios». E a legislação tem de ser tão flexível quando as necessidades da vida. Susan Cabeceira exemplifica que «a legislação obriga a fazer casas-de-banho com banheira, numa altura em que já não se usam. Temos de pensar em conjunto e desafiar quem faz a legislação para que sejam feitos pequenos ajustes, que nos permitam continuar a viver na nossa casa».

A Casa do Impacto está também a trabalhar nesta acessibilidade nas habitações, nomeadamente para as pessoas com deficiência, através do apoio a uma das start-ups instalada neste espaço, explicou Inês Jardim Sequeira.

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