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Especialistas reiteram aposta na reabilitação do edificado e respeito pelo património

Especialistas reiteram aposta na reabilitação do edificado e respeito pelo património
Créditos: Carlos Costa

Os profissionais que se dedicam à atividade da reabilitação urbana deparam-se, diariamente, com a questão do equilíbrio entre fazer uma cidade moderna, mas sem a descaracterizar, sem comprometer o património edificado existente. Na primeira sessão da Semana da Reabilitação Urbana do Porto, intitulada de “Património e cidade moderna – Como compatibilizar?”, os especialistas debateram este tema da compatibilização do património com a modernidade.

Caracterizando esta compatibilização como «um tema complicado», Filipe Ferreira, Administrador da AOF Construção, refere que «temos passado por muitos erros ao longo do tempo. É complicado falar em património e construções novas na cidade». Esta relação entre o Património e a cidade «tem sido interpretada ao longo dos tempos, em função das modas nas várias épocas, interesses pessoais e coletivos, da realidade social, económica e política», indica o responsável.

Assim, Filipe Ferreira sublinha que para a reabilitação devemos «pensar o património de outra forma, salvaguardar as construções antigas, analisar a envolvente, permitir a adaptação às necessidades atuais – as tipologias das habitações nos nossos dias é diferente, garantir lugares de estacionamento e transportes públicos, bem como condições de salubridade e conforto».

Na segunda intervenção da manhã, Miguel Duarte, Responsável Gabinetes de Projeto da MAPEI, apresentou um caso de estudo referente ao projeto de reabilitação do Conservatório Nacional. Como requisitos iniciais, foram tidos em conta fatores como salvaguardar a identidade cultural e histórica (manter a autenticidade); a compatibilização das características de arquitetura (um dos termos mais importantes na reabilitação); aplicação de soluções de produtos sustentáveis.

A abordagem passou por 4 fases: «Conhecimento» (cuidadosa análise visual), «Análises diagnósticas» (identificação das argamassas originais e do tipo de acabamentos dos edifícios), «Preconização» (identificação do produto e/ou sistema mais adequado e «Aplicação» (realização de amostras e ensaios para análise e validação dos sistemas preconizados).

Mesa-redonda de debate

O trabalho desenvolvido, nos últimos anos, nos centros históricos «é positivo», admite Lara Salgado, Diretora de Departamento, Direção Municipal do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto, ao indicar que foram emitidos cerca de 1000 alvarás na última década, o que corresponde a aproximadamente 1000 imóveis reabilitados no centro histórico do Porto, «por isso, olhando para estes valores, posso afirmar que o resultado é positivo. O aumento do número de visitantes e utilizadores impulsionou este fenómeno».

Lara Salgado admite que poderia ter sido evitado «do ponto de vista do licenciamento, fruto da aplicação do regime excecional de reabilitação urbana, permitimos ao longo de alguns anos a concretização de unidades habitacionais com áreas muito reduzidas (inferiores às permitidas pelo regime)».

Para a Diretora do Departamento de Gestão Urbanística da Câmara Municipal do Porto é fundamental continuar «a apostar na reabilitação do edificado e na requalificação dos espaços públicos e, é também inevitável, a criação de regulamentos específicos aplicáveis a determinados locais que limitam a instalação de algumas atividades económicas».

Balanço «muito positivo» das intervenções desenvolvidas

João Carlos dos Santos, Diretor-Geral do Património Cultural, traça um balanço «muito positivo destas intervenções no património», algo que ilustra «a grande aposta na reabilitação do património». Para o responsável, quando falamos sobre sustentabilidade, «um dos maiores aspetos que contribui para esta temática é a reabilitação do património». João Carlos dos Santos frisa ainda o «papel importante» que as empresas que intervém no património têm tido: «há 20 anos que não víamos uma empresa a falar de reabilitação com estes cuidados com o qual se fala atualmente».

O Diretor-Geral do Património Cultural prevê ainda um «futuro risonho» com a inovação tecnológica e com todos os que trabalham na reabilitação: «vamos ter cada vez mais cidades sustentáveis e modernas».

Miguel Duarte, Responsável Gabinetes de Projeto da MAPEI, destaca o papel das empresas do setor da construção, dentro da linha da MAPEI, que «procuram diariamente produtos e soluções sustentáveis. A empresa tem contribuído para essa inovação e tecnologia».

Respeito pela identidade do património

Para João Pedro Santos, Diretor, Conceptual Design & Architecture da Reify, o «património tem identidade, algo que deve ser respeitada». De facto «estamos a recuperar cidade, mas também o património: é essencial respeitar a identidade do património construído», frisa o representante da Reify. João Pedro Santos observa ainda «as restrições que a cidade tem» como uma «oportunidade para intervir».

Filipe Ferreira, Membro da direção do GECoRPA, sublinha o comportamento que as câmaras estão a ter: «a ideia que temos das câmaras é que demoram algum tempo a aprovar, mas estão a ter um comportamento que eu estou a apreciar: estão a melhorar muito. Houve um aumento muito grande de licenciamentos, é um sinal de que as câmaras estão proativas. Para nós é uma esperança muito importante». Filipe Ferreira sublinha ainda que «só conseguimos respeitar um edifício se o reabilitarmos e o pusermos a viver outra vez».

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