A construção industrializada surge como uma abordagem promissora para responder aos desafios da habitação acessível em Portugal, tema em destaque na primeira sessão da 12.ª edição da Semana da Reabilitação Urbana do Porto. As vantagens e soluções que este modelo pode aportar ao setor foram amplamente debatidas, com exemplos práticos de projetos em curso e visões inovadoras.
José Rui Pinto, Diretor Técnico-Comercial da KREAR, apresentou novas soluções de construção industrializada, direcionadas para uma nova geração de habitação. Segundo o responsável, o setor da construção enfrenta atualmente «severos constrangimentos», desde a baixa produtividade e a ineficiência dos processos tradicionais até à instabilidade dos preços dos materiais e sucessivos atrasos nos prazos. Nesse sentido, considera que a construção industrializada surge como uma alternativa viável e «uma contribuição para a habitação acessível». Entre as suas vantagens, destaca-se a maior rapidez e controlo de qualidade, o impacto ambiental reduzido, o orçamento mais previsível, a segurança para os trabalhadores e a flexibilidade no design das habitações.
António Monteiro, Managing Partner da A400, apresentou uma visão abrangente sobre este tema, partilhando exemplos de várias abordagens a nível global. «Estamos a trabalhar num projeto de grande escala em Lisboa que incorpora soluções de construção massiva em madeira», afirmou, evidenciando a crescente importância de materiais sustentáveis.
O especialista mencionou a impressão em 3D, uma tecnologia já disponível em Portugal que promete revolucionar o setor. «São várias formas de fazer que já existem no mercado, nomeadamente construção híbrida», disse o representante da A400, acrescentando que «é fundamental que arquitetos e projetistas partilhem estas soluções com promotores imobiliários e proprietários de obras».
Um dos principais pontos abordados foi a otimização do processo produtivo e construtivo. «Devemos ter a cultura de procurar a solução ótima, avaliando credivelmente os custos e considerando o impacto ambiental das nossas escolhas», explicou. No entanto, alertou para a complexidade da equação, «que deve ter em conta a cultura dos agentes envolvidos, como engenheiros e arquitetos». A morosidade e a burocracia dos processos também foram mencionadas como desafios significativos. «Precisamos de divulgar mais as soluções que conhecemos e adaptar-nos à escala do mercado, sempre com um olhar atento à circularidade dos materiais», concluiu António Monteiro.
Potencial da construção industrializada em Portugal
A mesa-redonda reuniu especialistas de diferentes áreas para discutir o potencial da construção modular e pré-fabricada no país, analisando as barreiras e oportunidades desta abordagem.
António Miguel Castro, presidente do Conselho de Administração da Gaiurb, destacou que a construção industrializada «é solução promissora para responder à falta de habitação, nomeadamente pela redução significativa dos prazos de construção ou ao controlo dos custos». Bruno Marques, Vice-Presidente do Conselho Diretivo Regional do Norte da Ordem dos Arquitectos, sublinhou a adaptabilidade dos técnicos portugueses, mas notou que a dimensão do mercado português faz uma diferença significativa. «Precisamos de respostas rápidas, e o licenciamento, atualmente, demora muitos anos. A eficiência na produção tem um grande impacto, e isso depende, em grande parte, de um apoio sério do Estado na formação dos técnicos», afirmou Bruno Marques.
"O principal problema é a resistência à mudança nas empresas"
Para Rui Rego, Engenheiro, Momento Flector - Engenharia e Construção, um dos maiores obstáculos à implementação da construção industrializada é a resistência à mudança por parte das empresas. «Compete às empresas definir metas e objetivos para atingir, mas isto não é fácil. É necessária nova formação, que faz perder muito tempo às empresas, o que, para nós, contribui para o medo da mudança e para a questão da rentabilização», explicou.
"Não há construção industrializada sem digitalização"
José Rui Pinto, Diretor Técnico-Comercial da KREAR, abordou a importância da digitalização como motor para a construção modular. «Não há construção industrializada sem digitalização, senão voltamos à construção tradicional», afirmou. O responsável defende que «há um investimento grande, que tem retorno garantido. Mas é preciso saber esperar». Países como Espanha já estão a conseguir preços mais competitivos devido ao uso crescente da construção industrializada, sendo um exemplo que Portugal deve considerar, disse José Rui Pinto.
António Miguel Castro, por seu lado, enfatizou os esforços do município de Gaia para implementar o BIM e simplificar os processos de licenciamento. «O Simplex veio acrescentar aqui um desafio ao status quo nos processos de licenciamento, e, sempre que mexemos no status quo, estamos a mudar as perspetivas de futuro», comentou.
Embora reconheça que os processos de licenciamento ainda apresentam complexidade, António Miguel Castro acredita que o uso do BIM trará uma camada de informação valiosa e melhorará o planeamento dos edifícios. «O BIM vai trazer-nos uma camada de informação, uma digitalização do edifício que vai ordenar e planear muito melhor a construção de edifícios; pode acabar com algumas profissões e dar origem a outras, mas é importante para o município», afirmou o presidente da Gaiurb, reforçando que a adaptação a esta nova realidade exige também uma «contínua capacitação dos técnicos».
No que diz respeito à construção em altura, Rui Rego refere que «precisamos de regulamentos ajustados a essa realidade». Bruno Marques complementa que «as nossas cidades não têm capacidade para suportar arranha-céus» e que existem «muitas formas de construir com dimensão e escala com construção modular sem ser em altura, necessariamente».
"O que estamos a fazer hoje pode ajudar Portugal a ser mais competitivo no futuro"
No debate, a importância de um conhecimento técnico robusto e a formação contínua foram apontadas como cruciais para a construção modular ser competitiva e sustentável. «O conhecimento é muito relevante e não podemos descurar isso. A nossa proposta de valor a nível individual tem de ser compatível com isso», enfatizou António Miguel Castro, notando que, ao fomentar uma abordagem industrializada e modular, Portugal poderá, no futuro, tornar-se mais competitivo no setor da construção a nível europeu.