opinião

Reabilitação urbana: defesa do património

Reabilitação urbana: defesa do património
Carlos Mineiro Aires
Bastonário da Ordem dos Engenheiros

Todavia, agora em 2021, transcorrido mais de um ano desde o seu início, será possível fazer um balanço e perspetivar o futuro da reabilitação urbana e da atividade imobiliária, bem como dos impactos gerados por uma crise sanitária inesperada e com dimensão global e que, segundo tudo indica, não foram significativos.

A opção feita, há uns anos atrás, de apostar na reabilitação do parque edificado em detrimento da construção nova, acabou por ser uma aposta sustentável sob todos os aspetos e que permitiu a recuperação de zonas degradadas e a recuperação de património histórico e cultural, para além de ter gerado um importante mercado que trouxe riqueza ao país.

Na verdade, há que reconhecê-lo, a reabilitação urbana e o mercado imobiliário confundem-se, porquanto este último acabou por preferencialmente apostar na reabilitação em detrimento da construção nova, o que advém da procura por localizações nobres e de mais elevado valor, maioritariamente em zonas históricas, ao que não é alheio o excelente trabalho que tem sido feito nesta área por arquitetos, engenheiros e empresas de construção que se especializaram neste tipo de intervenções.

Os promotores, que ousaram contrariar os ciclos e apostar nesta atividade durante o longo período em que a crise do subprime originou a paragem quase total da atividade da indústria da construção em Portugal, criando riqueza e, mais importante, emprego, quando não o havia, merecerão sempre a nossa admiração.

Fruto da excelência da oferta e das qualidades ímpares do nosso país, o mercado foi alimentado por uma elevada procura, sobretudo por parte de estrangeiros que optaram por aqui fazer os seus investimentos.

A pandemia que afetou bastante o setor da hotelaria e outros serviços ligados ao turismo parece não ter desencorajado os promotores que continuaram quer com os investimentos que estavam em curso, quer com novos, mesmo na área do turismo onde a retoma ainda não se perspetiva.

Como recentemente foi divulgado, em 2020 as aquisições estrangeiras rondaram os 740 milhões de euros no setor da habitação em Lisboa, o que correspondeu ao dobro do investimento desde 2016, centrado basicamente em aquisições de nacionais oriundas da China e França, e também dos USA e Brasil, num quadro em que os golden visa continuaram a assumir uma relevante importância.

A par, é justo referi-lo, os Governos têm criado medidas e apoios que visam incentivar a reabilitação do edificado, acrescentando-lhes novas exigências ambientais ligadas a questões de eficiência energética, de eficiência hídrica, sendo agora expetável que, na lógica da economia circular, o reaproveitamento passe a pautar comportamento de uma indústria altamente consuntiva de recursos naturais, onde devem ser incentivadas medidas de eficiência material.

Nestes aspetos, onde o conforto pontua, as exigências dos consumidores também aumentaram e a sustentabilidade passou a aportar valor acrescentado.

Por isso, felicitamos a organização e todos os que têm contribuído para o sucesso desta iniciativa que celebra a reabilitação urbana.

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