opinião

2021 promete ser de recuperação e de abertura a novas transformações no setor imobiliário

2021 promete ser de recuperação e de abertura a novas transformações no setor imobiliário
Patrícia de Melo e Liz
CEO da Savills Portugal

Não obstante, as previsões apontam para uma recuperação do setor à medida que o plano de desconfinamento vai avançando e a vacinação vai sendo aplicada a toda a população.

Estima-se que o mercado do investimento recupere a uma velocidade moderada, não colocando em causa Portugal como um destino atrativo e seguro para os investidores, embora com um investimento que deverá encerrar no final de 2021 em níveis inferiores ao período pré-pandémico. O mercado de investimento comercial imobiliário verificou uma redução de 14% de volume em 2020, se comparado com 2019, sendo que foi o segundo trimestre a sofrer uma maior queda no volume de transações, período que coincidiu com os meses de confinamento geral. No total do ano 2020 foram transacionados 2.7 mil milhões de euros, com os segmentos de retalho e escritórios a exercerem um peso de 79% no total do volume de investimento

Para 2021, espera-se transformação, reinvenção e adaptação de todos os segmentos aos efeitos colaterais causados pela pandemia

Apesar dos constrangimentos de mobilidade e da incerteza que o contexto atual ainda gera, a confiança dos investidores na recuperação do mercado irá manter a sua trajetória ascendente, com uma capacidade crescente de adaptação estratégica por parte dos investidores. O ritmo de recuperação terá diferentes velocidades para os diversos segmentos imobiliários, com maior resistência dos mercados de escritórios e logística.

Com as taxas de juros a manterem-se em níveis baixos, o investimento no setor imobiliário continuará a ser considerado um destino seguro para os investidores em comparação com outros produtos financeiros. Os elevados níveis de liquidez continuarão a ser direcionados para ativos prime em localizações centrais, mas com uma oferta de produtos mais escassa, a concorrência será mais aguerrida.

A depender da recuperação da crise pandémica e de um possível ajustamento dos preços face às expectativas de proprietários e compradores, o mercado poderá registar um aumento de investidores com perfil oportunista, direcionados para produtos em localizações mais periféricas, o que lhes permitirá diversificar a sua carteira de investimentos.

Os segmentos alternativos, especialmente o segmento multifamiliar, continuarão na mira da análise de investidores. Portugal apresenta todos os fundamentos de mercado necessários ao bom desenvolvimento deste segmento, assente no crescimento do mercado de arrendamento e no aumento exponencial da procura.

Devemos, portanto, olhar para o mercado imobiliário em Portugal com positivismo, mas também com cautela sobre a forma como queremos que o mesmo seja visto quer por investidores nacionais, quer internacionais. O nosso mercado pede ainda algum amadurecimento, sofisticação e exigência, logo, requer qualidade em todos os serviços que prestamos, nos produtos que oferecemos, no acolhimento que cada cidade é capaz de proporcionar, entre outros fatores de valorização. Estas características, não se coadunam com quebras de preços de produtos e serviços a preço de saldo que muitas das empresas insistem em oferecer sobretudo após momentos críticos de mercado, deixando a velha marca de que somos apetecíveis porque somos baratos. A nossa competitividade terá forçosamente deixar de passar pelo fator preço, mas pela enorme capacidade que temos de fazer bem e fazer bem passa sempre por um investimento de cada empresa, nas suas pessoas e nos seus produtos, que só é conseguido se valorizar o que realiza a um preço justo para o cliente, mas sustentável para toda a cadeia de produção. No equilíbrio é que está a virtude.

Numa altura em que se assinala a Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa e as eleições autárquicas, é importante pensar no que Lisboa pode dar em campos como o da sustentabilidade, da mobilidade, da atratividade a quem nela vive e nela quer investir.

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