Conjuntura

Arcadis: clientes e empreiteiros “devem colaborar num mercado a arrefecer”

Arcadis: clientes e empreiteiros “devem colaborar num mercado a arrefecer”

No seu novo relatório “Portugal - Análise do mercado de Outono 2022 – A sombra da estagflação”, a Arcadis defende que «a colaboração entre todos os intervenientes na sombra da estagflação será fundamental para a conclusão de projetos essenciais em condições de mercado difíceis», nomeadamente entre clientes e empreiteiros, perante um mercado que «está a arrefecer». Alerta também para a necessidade de «utilização engenhosa dos materiais».

Neste documento, a Arcadis recorda que as perspectivas para o mercado da construção mudaram abruptamente em 2022, nomeadamente devido à guerra na Ucrânia, com o mercado dos materiais a ser «gravemente afetado pelos elevados custos da energia e pela perturbação das cadeias de abastecimento». Na ótica da (falta de) mão-de-obra, assiste-se a uma situação de “pleno emprego”, e os materiais já registam aumentos médios de cerca de 30% em todas as indústrias nos últimos meses.

Apesar de a indústria registar um bom nível de atividade, «as bases da prosperidade futura continuam incertas». A Arcadis refere que «a curto prazo, estamos a observar alguma estabilização nos preços dos materiais que permite a continuidade dos contratos existentes de preço fixo e, por isso, o nível do volume de trabalho está estabilizado, ou a aumentar. No entanto, também estamos a observar um atraso em vários projetos devido ao aumento de custos, a negociações alargadas e a longos períodos de preparação dos principais materiais». Por isso, no futuro «é possível que as carteiras de encomendas possam diminuir devido aos custos serem demasiado elevados e aos clientes e respetivos empreiteiros não conseguirem chegar a acordo».

Além disso, «os níveis do volume de trabalho dependem cada vez mais de os clientes e as respetivas equipas encontrarem soluções comerciais para que os seus projetos possam ser concluídos, tendo em consideração que os empreiteiros não estão disponíveis para assumir mais riscos».

E o crescimento do setor da construção é «sensível à inflação», que se fixou nos 9,4% em julho, segundo o BdP, nomeadamente na produção doméstica, por isso «as potenciais implicações para os clientes da construção são significativas». Por outro lado, atualmente, «existem vários alertas de que a atual crise energética poderá reduzir o crescimento global e outras fontes preveem mesmo a recessão em muitos países».

Pedro Izquierdo, Diretor da Área de Construção da Arcadis, afirma que «embora a nossa análise se concentre principalmente em interrupções diretas e esperançosamente de curto prazo na cadeia de fornecimento de materiais, o impacto do ambiente global recente, provavelmente, irá repercutir-se por um longo período. Enquanto os preços permanecerem nestes níveis elevados, os empreiteiros acharão difícil obter garantias de entrega e preço da sua cadeia de fornecedores, os projetos contratados serão difíceis de executar. A estagflação provavelmente será sentida não apenas na economia espanhola, mas também na construção».

O impulso para uma construção mais sustentável

A crise energética na Europa está a focar as atenções na necessidade de reduzir a utilização de materiais com grande pegada de carbono, e incentiva a construção mais responsável e sustentável.

«A utilização inteligente dos recursos tem de se tornar num fator crítico da viabilidade», pode ler-se no relatório. E, do ponto de vista económico, «o aumento dos custos da energia e do carbono será um obstáculo ainda maior para a utilização de materiais fortemente dependentes do carbono. A transição energética global irá multiplicar a procura de materiais como o cobre e o níquel por dois ou por seis, respetivamente. O esgotamento dos recursos é uma questão igualmente grave».

A seleção dos materiais não se cinge apenas ao tipo de material escolhido, mas também à forma como se usa e reutiliza esse material. Há que ter em conta fatores como a eliminação dos resíduos em cada projeto, assim como dos elementos fortemente dependentes do carbono. E a substituição por madeira não é a única alternativa, há que aumentar a eficiência da utilização dos diferentes materiais, e adotar os princípios da economia circular. Sempre que possível, utilizar materiais naturais ou biológicos, que têm cada vez mais variedade no mercado.

Segundo a Arcadis, «nem todas as inovações conseguirão entrar no mercado mais amplo, algumas poderão encontrar uma aplicação de nicho e outras poderão ser suspensas. O que é preciso são mais oportunidades para permitir mais inovações. O apoio dos clientes, designers, empreiteiros, reguladores e financiadores será fundamental para a criação de mercados e permitir o desenvolvimento destas inovações».

Um plano para lidar com a turbulência

Para gerir esta volatilidade, a Arcadis recomenda um plano de 5 passos, que passa pela maior resiliência da cadeia de abastecimento, nomeadamente «a devida diligência durante o processo de aquisição», que será «ainda mais importante do que normalmente»; ou o reforço da resiliência do projeto imobiliário, que deve identificar e mitigar os riscos críticos que aumentam com a crise da Ucrânia: «é possível tornar os projetos mais resilientes através da conceção de disposições adicionais de partilha de riscos, incluindo cláusulas de ajuste de preços».

Por outro lado, é importante otimizar o projeto imobiliário, um benefício ainda mais significativo no mercado atual. Uma cultura de equipa é também importante, já que «equipas com alto desempenho podem fazer a diferença na crise atual, através da colaboração na resolução de problemas». E, por fim, destaque para a liderança do projeto. A Arcadis revela que, em 2023, «o principal desafio será o de iniciar os projetos no local como antecipação à futura procura. Os líderes terão de assumir o risco e partilhar o risco e terão de delegar autoridade para que as equipas possam responder rapidamente aos problemas à medida que estes surgem».

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