A primeira edição das conferências “Pensar a Energia” da Adene, que decorreu a 14 de abril, teve como tema “Os Edifícios do Futuro na Transição Energética e Ação Climática”.
A Secretária de Estado da Habitação, Fernanda Rodrigues, esteve presente no evento onde apresentou as grandes linhas da política de habitação. Filipe Araújo, Vice-Presidente da Câmara Municipal do Porto, esteve também presente na primeira edição do ciclo de Conferências “Pensar a Energia”.
Na ocasião, o vice-presidente da autarquia, referiu que a CMP «investiu em 7 anos cerca de 150 milhões de euros em obras no seu parque edificado, nomeadamente no parque de habitação social, com um foco essencial na eficiência energética».
Neste sentido, falou sobre o projeto Porto Energy Hub, que tem como objetivo apoiar os cidadãos a melhorar o conforto térmico nas suas casas e mitigar a pobreza energética no território da Área Metropolitana do Porto. A CMP dispõe de um balcão único digital e físico para apoiar os cidadãos e entidades gestoras de habitação (públicas e privadas) do Município do Porto.
Deu também conta do Pacto do Porto para o Clima, uma estratégia ambiciosa que revela o papel que o Porto está a ter na transição energética. Na 10ª Semana da Reabilitação Urbana do Porto, Filipe Araújo havia distinguido o Pacto do Porto para o Clima como o «nosso verdadeiro compromisso enquanto cidade».
Painel
O segundo painel da conferência debateu o tema das “Oportunidades e Desafios da Nova Diretiva”. Carolina Silva, Gestora de Projetos da Associação Zero, atentou para a importância de analisar os ciclos de vida dos edifícios: «as análises do ciclo de vida são extremamente importantes do ponto de vista ambiental, pois permitem quantificar e avaliar aquele que vai ser o impacto ambiental de produtos, processos e de serviços».
«Temos vários desafios», dependentes, em larga medida, «da vontade e coragem política», que «vai exigir muita articulação entre os stakeholders envolvidos para que possamos, efetivamente, avançar nesta matéria», considera Carolina Silva.
Capacitar e qualificar profissionais
Carolina Silva aponta ainda para os grandes desafios na qualidade da construção: «para termos um edifício com emissões zero, temos de ter em conta todos os aspetos envolventes, desde o projeto à própria construção. Podemos ter um projeto que é altamente eficiente, mas depois vai ser prejudicado pela falta de pessoas capacitadas para fazer as instalações mais eficientes».
Alega que há uma «necessidade bastante grande de capacitar e formar os profissionais envolvidos nestes grandes projetos».
Para Bento Aires, Presidente do Conselho Diretivo da Região Norte da Ordem dos Engenheiros Ordem dos Engenheiros, um profissional tem três grandes tipos de competências, inspirado na gestão de projetos: «competências comportamentais, técnicas e de contexto».
Para o responsável «hoje, temos em cima da mesa, sob o ponto de vista técnico, um conjunto alargado de objetivos num calendário apertado para cumprir, para não dizermos que é impossível». Por conseguinte, Bento Aires salienta que «temos de conseguir moderar a nossa capacidade de execução e a forma como vamos fazer, preparando os profissionais para isso».
Tendo em vista que os edifícios têm uma enorme componente de CO2 ao longo do seu ciclo de vida, não podemos «dissociar nenhuma estratégia de descarbonização, de redução de emissões, sem conseguirmos ter uma abordagem que vá à reabilitação e à construção nova», frisa Bento Aires, acrescentando que «precisamos que o cliente Estado seja um bom cliente: pague mais e melhor e que saiba o que quer». O Estado «tem de perceber que tem de emanar uma legislação coerente e não um conjunto de diplomas avulso».
“Temos de perceber qual é o parque habitacional que queremos”
O Presidente da OERN sublinha que «temos de conseguir perceber, em termos macros, qual é o parque habitacional que queremos e como o vamos querer fazer», ao frisar que os engenheiros estão preparados para os desafios que se colocam. Bento Aires falou ainda dos centros das cidades: «precisamos de tirar pessoas dos centros das cidades, de algumas localizações, para que os núcleos urbanos mais densos e consolidados estejam mais preparados para lidar com as alterações climáticas».
Ricardo Camacho, Coordenador da Comissão Técnica de Sustentabilidade Ordem dos Arquitetos, assinala que «o trabalho que tem sido feito pelas ordens profissionais, de arquitectos, engenheiros e até mesmo de entidades como a Adene, tem sido muito positivo», acrescentando que para além dos indivíduos e das profissões, as instituições «também devem estar preparadas para estas questões».
“Devemos preparar-nos”
O representante da OA, aponta que promotores, empreiteiros, arquitetos projetistas devem estar conscientes destes desafios que se colocam: «devemos preparar-nos». Se a meta é descarbonizar, «a prioridade será nos edifícios existentes», refere Ricardo Camacho, acrescentando que «neste sentido, a Adene tem responsabilidades imensas».
O responsável reforça que «a questão da operação do edifício, manutenção, utilização e comportamento do utilizador são mínimas face ao impacto da construção, algo que ninguém quer discutir. É uma questão fundamental se queremos falar sobre descarbonização».