A inconsistência nos padrões dos Certificados de Desempenho Energético (EPC) na União Europeia cria várias discrepâncias significativas na classificação de edifícios comerciais, que pode ir até quatro níveis de classificação.
Esta é uma das conclusões do relatório Impacts, da Savills, segundo o qual a falta de harmonização nos critérios de certificação energética verifica-se não só entre países, mas também a nível nacional. A consultora dá o exemplo da Bélgica, onde um edifício com igual desempenho energético - medido em kWh/m²/ano - receberia classificação “C” na Flandres, mas “D” ou até “F” em Bruxelas, devido a limites mais rigorosos impostos na Região de Bruxelas-Capital.
Mas esta disparidade pode acontecer também noutros países, onde escritórios com certificação “A” apresentam consumos de energia primária muito diferentes, o que significa que um edifício avaliado como “A” num país poderia receber apenas “D” ou “E” noutro.
Nuno Fideles, Head of Sustainability da Savills, explica que “com a introdução prevista da EPBD IV, entre 2028 e 2030, deverá ocorrer uma harmonização das classificações. No entanto, tal como o estudo sublinha, será crucial analisar o consumo real dos edifícios medido em kWh/m²/ano. É essa métrica que fará a diferença para utilizadores e investidores”. Avança que “através da análise CRREM, poderemos compreender a verdadeira eficiência do imóvel e verificar se cumpre as metas anuais da UE até 2050, bem como os objetivos de sustentabilidade já definidos por inquilinos e investidores”.
Chris Cummings, Founding Director, Savills Earth, comenta que “a falta de normalização da classificação energética na UE e no Reino Unido, que também utiliza o EPC como principal indicador de desempenho, evidencia um desafio global para investidores e ocupantes internacionais: se dentro do próprio bloco existem disparidades, como comparar realidades ainda mais distintas, como Ásia-Pacífico ou EUA?”, questiona. Por isso, acredita que “idealmente, deve olhar-se para além da classificação EPC e avaliar o consumo energético real. Caso contrário, arrisca-se a descartar edifícios com notas mais baixas em mercados mais exigentes, mas energeticamente mais eficientes, para optar por ativos com classificação superior noutros países, que podem, no entanto, apresentar um desempenho inferior”.
Por seu turno, Sarah Brooks, Associate Director, Savills World Research, afirma que “as diferenças nos padrões de sustentabilidade entre cidades podem criar tanto desafios como oportunidades. Estratégias de investimento devem considerar políticas locais, expectativas do mercado e incentivos disponíveis. Muitas vezes, obter vantagem competitiva implica ir além dos requisitos nacionais, alinhando com as metas das cidades e com planos de sustentabilidade de longo prazo. Aqui, a 'due diligence' detalhada é determinante”.