Para quem ainda não conhece o V. trabalho, podem sugerir uma obra que seja representativa daquilo que têm feito nos últimos anos?
Será difícil selecionar uma obra. As que estão em curso são sempre as que coincidem de forma mais direta com o nosso pensamento actual. Mas, tendo que escolher uma seria a oficina comum por ser o nosso primeiro trabalho e ter sido a primeira vez com que nos deparamos com o grau de fatalidade, como dizia Fernando Távora, do desenhar e planear uma obra. A partir de uma reabilitação muito cirúrgica e muito económica, conseguimos ativar uma antiga casa do centro do Porto, que é ainda um espaço de trabalho colectivo onde ainda temos o escritório.
Onde estão sedeados? Quais as áreas de especialização? E qual a dimensão da equipa?
Estamos sedeados no Porto, mas temos trabalhado em várias cidades, essencialmente na zona norte do País. Não temos área de especialização, temos tentado fazer um pouco de tudo, em diversas escalas e diversos contextos. A equipa vai variando entre os 4 a 6 arquitectos.
Quais as principais características que marcam as vossas obras?
Na nossa prática procuramos desenhar soluções e estratégias de intervenção simples e bonitas, que contribuam para a melhoria das condições de quem habita ou usa os espaços onde estamos a intervir. Esta procura é naturalmente contextual, mais que uma busca por uma linguagem ou uma sistematização construtiva. Normalmente, trata-se de um processo o mais específico possível, para cada circunstância que encontramos.
E, entre os projetos mais emblemáticos do vosso portfólio, quais destacariam?
Das obras que se encontram terminadas, que ainda são em pequeno número, talvez a casa da lany, o ginásio muro crossfit, e as casas capitão (ainda não totalmente finalizado), em Guimarães; a já referida oficina comum e as casas do manoel, no Porto, e a casa da beira-mar, em Aveiro.
Cumprido um ano desde a chegada da Covid-19, como têm sentido o impacto da pandemia no mercado da arquitetura? E, especificamente, na prática do vosso atelier?
Neste momento ainda não sentimos os impactos da pandemia de forma significativa na dinâmica de trabalho, talvez pelo tamanho do escritório.
Desde a declaração do primeiro estado de emergência que o nosso dia a dia mudou ligeiramente e tornou-se muito mais virtual. E, do ponto de vista disciplinar, esta situação veio até reforçar algumas ideias que temos tentado aprofundar na nossa prática, como a flexibilidade e a adaptabilidade, na organização espacial interna dos edifícios, e a relevância da relação dos espaços exteriores próximos da habitação, sejam eles privados, coletivos ou públicos.
Atualmente, quantos projetos têm em carteira (em que setores e em que localizações)? E quais as perspetivas ao nível de novas encomendas para este ano?
Temos cerca de 25 projectos, com escalas muito distintas e provenientes de vários sectores. Estamos neste momento a desenvolver um pequeno espaço público, a reabilitar um centro social e alguns edifícios industriais, mas a maior parte dos projectos são encomendas privadas de pendor habitacional.
Olhando para o estado atual do mercado imobiliário e da construção, onde identificam o maior potencial de crescimento em Portugal?
Tendo em conta o momento pandémico e as anunciadas consequências universais das alterações climáticas, que parecem estar a exigir um equilíbrio entre a densificação das cidades e a qualidade e diversidade do espaço urbano, parece-nos que o potencial estará na atualização dos edifícios e na transformação da sua relação com o entorno.
Nesta fase, o mercado continua muito voltado para a reabilitação e a regeneração urbana. A seu ver, qual é o papel do arquiteto nesse processo que, afinal, é uma prioridade a nível nacional?
Devemos usar as nossas ferramentas e conhecimentos disciplinares para, como dizia Francisco Barata, a partir da atenção à história, aos motivos do património, e claro, a partir da atenção ao presente, aos motivos das novas vontades, desenhar e engendrar opções que consigam transformar e atualizar os edifícios de forma coerente com o contexto e a cultura local e procurar impedir o que Cesare Brandi apelidou de falsos históricos.
Outra questão-chave e que é cada vez mais incontornável é a sustentabilidade do edificado, não só do ponto de vista energético, mas também ambiental e social. Como é que a arquitetura deve contribuir para este desígnio?
Vemos a construção como um acto contínuo e colectivo onde é fundamental conjugar, nas opções de desenho e transformação, a memória colectiva, os valores patrimoniais e as necessidades de habitabilidade contemporâneas.
Hoje em dia, um acto arquitectónico é muitas vezes entendido com acto de resistência contra a destruição. Neste sentido, nas nossas obras tentamos demolir o mínimo possível, aproveitar e potenciar os materiais existentes, adicionar em vez de simplesmente substituir e tentar ir percebendo em que momentos será melhor optar pelo vernacular ou pelo universal.
E, tendo em conta o estado atual do parque edificado nacional, quais devem ser as prioridades para o tornar mais sustentável?
Pensamos que o ideal será pensar os edifícios não apenas com um invólucro habitacional, mas antes como um organismo que é usado ou habitado. Parece-nos fundamental perceber o seu funcionamento como um todo coerente, sobre o qual será essencial os técnicos e mesmo os habitantes terem algum conhecimento, para conseguirem adequar a sua manutenção ou recuperação de uma forma eficiente e precisa.
Quando prescrevem os materiais de construção, que características tem em consideração?
A durabilidade, o modo como envelhecem e as suas características essenciais, que podem passar pela cor, textura, e claro, pela sua relação com a cultura construtiva local e com as características do edifício ou do território onde intervimos.