No segundo dia da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa, decorreu a conferência "As pessoas no centro do Bairro – Uma visão social e inclusiva", um debate promovido pela Câmara Municipal de Lisboa e Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Os presentes na Semana RU de Lisboa tiveram a oportunidade de visitar a Exposição "525 Anos Património SCML".
“O bairro é onde vivemos e encontramos todos os serviços essenciais ao nosso dia-a-dia”
A primeira intervenção da conferência coube a Ana Vitória Azevedo, Administradora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Apontando para o bairro como o local «onde vivemos e encontramos todos os serviços essenciais ao nosso dia-a-dia», Ana Vitória Azevedo salienta que a SCML desempenha papel importante, apoiando «mais de 50.000 pessoas e disponibilizando várias valências em toda a cidade» .
No Bairro Bairro Alto, onde está a sede da SCML, Ana Vitória Azevedo refere que «temos aqui vários equipamentos, habitação, ação social, cultura, como o complexo de São Roque e o Palácio Condes de Tomar». A administradora da SCML enfatiza que «queremos dar resposta às pessoas deste bairro».
«Grande parte dos imóveis da SCML estão situados no Bairro Alto, vários estão em arrendamento, como os da Travessa da Boa Hora, ou na rua do Duque, alocados ao arrendamento jovem», indica Ana Vitória Azevedo.
“A cidade é uma construção e projeto societário, que vai sendo construído com múltiplos agentes”
Na mesa-redonda de debate, Pedro Pinto, Professor do ISCTE, apontou para a cidade como uma «construção e projeto societário, que vai sendo construído com múltiplos agentes, de forma mais ou menos planeada», sendo ela um «reflexo das nossas próprias qualidades e falhanço, reflete estruturas de poder, condições de acesso à propriedade» etc. Pedro Pinto sublinha que «queremos tornar a cidade mais inclusiva, mais social».
Maria José Rafael, Chefe de Divisão de Participação e cidadania do departamento para os Direitos Sociais da CML, revelou que «trabalhamos em conjunto em muitos projetos de ação social com a SCML e estamos a trabalhar na aplicação do conceito da Cidade dos 15 minutos», adiantando que um conjunto de 50 cidadãos vai apresentar à CML uma série de propostas neste sentido.
“Para nós, toda a cidade é um bairro”
«As pessoas continuam no centro, a cidade está a ser mudada tendo isso em conta. Para nós, toda a cidade é um bairro», aponta Maria José Rafael, referindo que «não se vê fisicamente o que nós fazemos, mas ele existe e é diluído por toda a cidade». Sublinha ainda que «estamos na cidade toda e continuaremos a estar».
Helena Lucas, diretora do departamento de Gestão Imobiliária e Património da SCML, garante que a SCML «tem as suas áreas bem definidas, nomeadamente a social, saúde ou cultura, tendo o património como base», acrescentando que «podemos usá-lo para as respostas nessas várias áreas».
“Temos vindo a reabilitar património para responder nestas várias áreas”
«Temos conseguido fazer vários projetos, trabalhamos com a CML em cada bairro de Lisboa, temos vindo a reabilitar património para responder nestas várias áreas. Temos vários grandes projetos para trabalhar questões como a intergeracionalidade», indica Helena Lucas, mencionado que «estamos a trabalhar um com o ISCTE, criando uma residência assistida junto com residência sénior, num convento na zona de Santos o Novo, Marvila, que nos chegou através do Estado».
A diretora do departamento de Gestão Imobiliária e Património da SCML assegura que «estamos todos a construir cidade e a humanizar essa cidade, em parceria com a CML sempre».
Patrícia Luz, coordenadora da associação Príncipe+Real, mostra que «estamos muito felizes com o modelo pioneiro desta associação». Neste um ano e meio de existência, a associação construiu, por exemplo, «mascotes de bairro, com identidade própria, criámos site do bairro, instagram do bairro, agenda cultural de cada semana, sistema de comunicação com as juntas, relação com as escolas do bairro». A responsável nota que «estamos a criar uma rede de comunicação eficaz, simples, ágil».
“Temos habitação a preços mais baixos, para refugiados, por exemplo”
Helena Lucas sublinha que «não temos obrigatoriedade de colocar as rendas abaixo do mercado», todavia «temos habitação a preços mais baixos, para refugiados, por exemplo, tentamos acompanhar as políticas do Estado».
Pedro Pinto refere que «sabemos que Lisboa tem cerca de 20% da população estrangeira, um número incrível», salientando o papel desempenhado pelas univisersidades: «todas as universidades de Lisboa têm tentado dar uma resposta no que diz respeito ao alojamento estudantil, uma das respostas passa pela parceria com a SCML».
Maria José Rafael refere que a Câmara de Lisboa «gostaria que os emigrantes permanecessem» e que o ideal era «responder em termos de alojamento a todos, mas não temos capacidade, principalmente emigrantes que não têm depois contrato de trabalho que lhes permita legalizar».
Na ótica do turismo, Patrícia Luz realça que «o nosso grande foco é em quem mora. Os turistas também agradecem que o bairro seja dos moradores, também querem ambientes e bairros reais e genuínos, quanto mais forem, mais os turistas vão querer vivenciar isso. São sempre muito bem-vindos».