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Promover mobilidade elétrica, visando sustentabilidade e descarbonização

Promover mobilidade elétrica, visando sustentabilidade e descarbonização
Sessão "Mobilidade elétrica. O impacto na reabilitação das cidades".

Investir na mobilidade elétrica surge como uma potencial alavanca para a descarbonização dos edifícios. Qual o impacto deste novo paradigma nas nossas cidades? Como estão as cidades a preparar-se para ser palco desta transição “verde”? E como podemos acelerar a descarbonização da mobilidade e dos edifícios? Estas foram algumas das questões que marcaram a sessão "Mobilidade elétrica. O impacto na reabilitação das cidades", no segundo dia da Semana da Reabilitação Urbana do Porto.

"Mobilidade elétrica cruza com aquilo que fazemos no setor da construção e reabilitação"

«A sustentabilidade, abrangendo não apenas o uso eficiente de energia, mas também a otimização e boas práticas de gestão, tem sido uma área na qual nos temos dedicado com satisfação, pois está atualmente em destaque e é tratada com grande atenção», enunciou José Manuel Sousa, Vice-Presidente da Ordem Engenheiros Técnicos, na abertura da sessão, adiantando que a OET «está constantemente empenhada em promover essa consciencialização». A mobilidade elétrica «cruza com aquilo que fazemos na área da construção e reabilitação: temos de encontrar soluções novas para grandes problemas», completou.

Na primeira intervenção, Luís Castanheira, Administrador Delegado da Energaia – Agência de Energia do Sul da Área Metropolitana do Porto, apresentou uma perspetiva sobre a gestão da mobilidade elétrica nas cidades. Destacou o «papel da cidade na estruturação da mobilidade elétrica e o papel da mobilidade elétrica na cidade, sempre tendo em vista o desígnio maior que temos da sustentabilidade e descarbonização».

Quanto ao papel desempenhado pela Energaia, a agência «tem vindo a apoiar algum dos seus municípios na formulação de procedimentos para a criação de novos postos de carregamento de veículos elétricos no território», sendo que «a nossa intervenção está limitada, e ainda bem, pelo facto de que há agentes e operadores no mercado privado que dão resposta a essas necessidades. O município tem de retirar as melhores propostas e implementar as melhores soluções», afirmou.

O responsável exibiu ainda alguns dados relativos à percentagem de novos veículos elétricos registados. Em 2020, foram registados 5,42% – percentagem de veículos elétricos vendidos em Portugal. Para 2035, a previsão é de 51,86%, um aumento de +46,44% face a 2020.

Elevadores já podem ser elementos de produção de energia

Na mesa-redonda de debate, José Sá Carneiro, Head of Service da Schmitt + Sohn Elevadores, indicou que «trabalhamos a investigação em desenvolvimento em 4 vetores de consumo: consumo do equipamento enquanto funciona e preocupamo-nos muito também com os consumos de stand-by; energia embebida no próprio produto; numa terceira fase, toda a energia necessária para manter o equipamento; por último, os elevadores já podem ser elementos de produção de energia, as tecnologias atuais permitem-nos pegar na energia que é gerada nos equipamentos e injetá-la nos edifícios».

O representante da Schmitt + Sohn Elevadores frisou que «temos trabalhado nestes quatro eixos principais, para numa análise de ciclo de vida total, reduzir a energia que os nossos operadores necessitam».

Qual o impacto do crescimento da mobilidade elétrica na estrutura das cidades?

Ao ser questionado sobre qual o impacto do crescimento da mobilidade elétrica na estrutura das cidades, e se considera que estamos a dar a resposta necessária, Luís Castanheira, Administrador Delegado da Energaia, salientou que «há desafios que são tecnológicos e infraestruturais, que impactam a gestão do quotidiano das cidades», adiantando que o papel dos municípios «é de regulador e facilitador dos processos».

Atualmente, «todos nós conseguimos chegar a estas cidades e sentir a presença de postos de carregamento, a existência de carregadores no supermercado, restaurante e rua etc.», contudo «como seria a cidade com 100% dos automóveis eletrificados?», refletiu, respondendo que «teríamos uma cidade bastante diferente, com desafios que não se restringem apenas ao ambiente urbano, mas também a montante, uma vez que a eletricidade tem de chegar a algum lado. Este cenário exige uma abordagem integrada com uma filosofia diferente na produção de energia».

Luís Castanheira realçou que a produção descentralizada para a mobilidade elétrica «já uma realidade presente, mas gostava que fosse ainda mais presente» e o conceito das comunidades energéticas «vem ajudar a facilitar toda esta transição». O responsável considerou ainda que, «enquanto não alterarmos, no âmbito do processo da reabilitação, o uso dos edifícios e trabalharmos para as cidades dos 15 minutos, vamos continuar a ter engarrafamentos, por exemplo».

"O tema da mobilidade elétrica é um mindset"

Filipa Aires Abreu, Head of E-mobility solutions da EDP Comercial, afirmou que «o nosso objetivo é garantir que conseguimos dar um ecossistema único, tanto para carregamento público como privado». Destacou que, atualmente, a EDP possui uma rede de carregamento ibérica com mais de 4.500 mil de postos de carregamento contratados e pretende duplicar esse número até 2026: «é uma realidade que está a acontecer, queremos que as pessoas que utilizam estes veículos estejam tranquilas por ter carregadores na cidade», sublinhou.

O objetivo passa por ter «uma rede que esteja em vários pontos do país, uma mancha que garanta tranquilidade ao utilizador», a título de exemplo, «através da nossa aplicação conseguimos fazer um plano de rota, saber onde estão precisamente os carregadores», explicou Filipa Aires Abreu, acrescentando que esta aplicação «traz a visão do carregamento público, mas também do carregamento privado e dos edifícios». Na EDP «queremos simplificar ao máximo esta transição e garantir que, no fundo, todos os agentes envolvidos consigam através das nossas soluções simplificar esta transição para o seu quotidiano».

Práticas ESG

No que toca ao fator ambiental, em termos de práticas ESG, Liliana Soares, Head of ESG & Sustainability da CBRE, explicou que «tem-se sentido essa mudança por três vias – a regulamentação puxa-nos por este caminho; utilizadores dos edifícios estão cada vez mais eficientes; do ponto de vista dos investidores, eles sabem que isso é importante e têm plena noção de que os edifícios, que não têm implementação de ESG, estão em desvantagem».

Os escritórios «que possuem algum tipo de certificação de sustentabilidade apresentam, em média, valores de renda cerca de 6% superiores em comparação com os escritórios tradicionais. Esta média é observada em diversas cidades europeias, contudo, existe uma notável disparidade entre aquelas com ambientes mais consolidados nessa área e outras, como Lisboa e Madrid, onde essas práticas não são tão prevalentes. Nesses casos, a diferença é substancialmente mais expressiva, situando-se os valores de renda para edifícios em Lisboa ou Porto, por exemplo, tendencialmente acima dos 14%», apurou Liliana Soares.

«O mercado vai valorizar edifícios que são mais sustentáveis, alias, já são mais valorizados. Cada vez mais, verificamos um aumento de consumidores sensíveis e preocupados com as questões de energia e do conforto e bem-estar. Esses elementos têm cada vez mais peso e impacto nas decisões dos consumidores», afirmou a representante da CBRE.

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