Para que Portugal consiga “apanhar o barco” da retoma do turismo, há que manter as empresas até lá, e apostar forte na promoção do destino, para que se mantenha competitivo quando se voltar a viajar.
Esta foi uma das principais ideias partilhadas pelos especialistas presentes na conferência “Os cenários pós-pandemia na recuperação do turismo”, que se realizou a 13 de maio, durante a Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa.
Na retoma, «não podemos estar fora do radar», defende Cristina Siza Vieira, Presidente Executiva da AHP, que afirma que a principal preocupação atual da associação é «a retoma da atividade e o regresso das viagens». Mas admite que «só conseguimos antever o cenário a cerca de 2 anos».
Dando alguma perspetiva de um mercado fortemente impactado pela pandemia, Eduardo Abreu, da Neoturis, lembrou que «todos os números são dramáticos», mas que ainda não há «uma sangria de 20 ou 30 hotéis à venda em Lisboa, como alguns previam há algum tempo». Está convicto de que «estão criadas as bases para, quando a retoma vier, Lisboa poder voltar a valores de 2019».
Luís Araújo, Presidente do Turismo de Portugal, assume-se «otimista, vemos sinais que mostram que a retoma está no horizonte. Mas ainda temos um caminho para fazer». E destaca que «está a ser preparado um plano que nos permita uma retoma imediata com componente forte de apoio às empresas». No essencial, considera que «é preciso que nos deixem trabalhar e receber bem. Não podemos perder tempo».
O responsável do TP identifica que há hoje uma procura por destinos menos conhecidos, por estadias mais longas, ou por destinos mais sustentáveis. E avisa que «a questão da sustentabilidade veio para ficar. É essencial que percebamos que isso é essencial para o futuro», alem da tecnologia e o digital, «não só na comunicação com o cliente, como também na eficiência das operações».
«Os fundamentais do sucesso que tivemos até 2019 estão cá todos», garante José Roquette, Administrador do Grupo Pestana. «É bom ter algum otimismo», apesar de a pandemia ter feito «perder cerca de 3 a 4 anos nos business plans das empresas». Aponta como principal desafio de futuro «o impacto estrutural das mudanças no transporte aéreo, que vai passar por uma enorme restruturação e redimensionamento». A curto prazo, aponta a importância de «passar a imagem de um destino seguro» e de logística sanitária fácil.
Mas avisa que «a recapitalização das pequenas e médias empresas tem de ser uma enorme prioridade, e o Estado tem de intervir. Faria sentido algum estímulo fiscal, ao nível do IVA», exemplifica.
José Tiago Silva, Partner da Explorer Investments, é ainda mais otimista, e considera que «nada vai mudar. Daqui a dois ou três anos estaremos de volta aos níveis de 2019». E avança que o grupo «vai continuar a investir e seguir no caminho da sustentabilidade, que tem de deixar de ser só um slogan». Destaca a importância da clarificação das eventuais alterações às moratórias, esperadas para setembro.
Pela positiva, Nuno Constantino, Whatever da Hostels HUB, destaca que «a Lufthansa encomendou uma série de novos aviões recentemente. Acreditam claramente que o fluxo turístico vai voltar».
Mas não esconde as dificuldades pelas quais o segmento dos hostels passou com a pandemia: «são empresas mais pequenas, com capacidade financeira reduzida, com imóveis arrendados e sem apoios de moratórias, porque não são proprietários. Houve também uma alteração legislativa que obrigou a um conjunto de alterações que não é exequível porque as autarquias não dão resposta, como criar casas de banho num edifício do centro histórico no espaço de um ano». Conclui que «em Lisboa e Porto vamos ter esta luta e uma recuperação demorada durante algum tempo. não sabemos se começamos a recuperar no final do verão ou só em março. Nesse caso, serão 2 anos e 4 meses de época baixa».
Cidades devem apostar na cultura e na gestão integrada
Cristina Siza Vieira destaca que as dificuldades da pandemia serão sentidas de forma diferente consoante o tipo de destino, em especial em Lisboa e Porto, que «preocupam bastante», devido ao impacto no turismo de negócios.
Considera que a resposta passa por «diversificar e apostar nas novas tendências da cidade, que tem agora que se afirmar de outra maneira», nomeadamente na «aposta na cultura para suprir a carência do turismo de negócios», ou «num funcionamento de “smart city” com gestão integrada de equipamentos. Vai ser fundamental para a afirmação das cidades do futuro».
Lembra ainda para a importância da desburocratização das mudanças de uso dos hotéis, «para permitir, sem complicações do RJUE, uma flexibilização e um “mixed use” para transformar a hotelaria convencional em habitação. Tem de fazer sentido ajustar a oferta hoteleira do ponto de vista do investimento».
Veja a conferência completa aqui: