O maior galardão nacional, no âmbito da reabilitação urbana, está de regresso para assinalar a sua 12ª edição. As inscrições abrem brevemente, ainda durante o mês de novembro. Com o apoio do Instituto da Construção Sustentável ao prémio estrutural, a 12ª edição da iniciativa apresenta grandes novidades, nomeadamente, a apresentação do Prémio Mestres da Construção, com a curadoria do arquitecto Eduardo Souto Moura. A cerimónia de entrega dos prémios vai decorrer em Matosinhos, na Casa da Arquitectura.
A 11.ª edição da Semana da Reabilitação Urbana do Porto foi palco para a apresentação da 12ª edição do Prémio Nacional de Reabilitação Urbana. Reconhecido pelos profissionais do setor da construção e do imobiliário como um dos mais importantes galardões do setor, o Prémio Nacional de Reabilitação Urbana orgulha-se de ter chegado a todo o país, de norte a sul, incluindo ilhas, num número superior a 700 candidatos. Na primeira sessão do último dia da Semana da Reabilitação Urbana, estiveram reunidos especialistas na atividade da reabilitação urbana nacional.
Na primeira intervenção, Filipe Ferreira, vogal da Direção do GECoRPA – Grémio do Património/AOF, abordou o papel dos mestres na reabilitação urbana. Tendo em vista que «a emigração da nossa mão de obra especializada está a aumentar para países onde os salários são mais elevados», é importante «demonstrarmos às pessoas que este trabalho (de técnico especializado) é um trabalho digno, qualificado e de qualidade».
Mas como podemos cuidar do património que temos e, concomitantemente, manter os técnicos especializados em Portugal? Para Filipe Ferreira é fundamental pensar no património de outra forma; identificar e caracterizar o património; gestão do património (por exemplo, em especial do turismo cultural); metodologias de intervenção e prioridades; investimento público é fundamental; formação e qualificação dos atores em todo o processo; perspetivar evolução futura da reabilitação em Portugal; alargar a intervenção do património do século XX, habitação corrente, em curso etc.
“Há uma diferença entre construir o construído e o construir de novo: muitas das vezes confunde-se reabilitação com aquilo que não é reabilitação”
Carlos Prata, Arquiteto, Professor Jubilado da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto e Membro do Júri do PNRU, atentou ao facto de que «há uma diferença entre construir o construído e o construir de novo: muitas das vezes confunde-se reabilitação com aquilo que não é reabilitação». Esta questão da reabilitação urbana «foi sendo colocada e estudada com intervenções de muita qualidade», sendo «as políticas fundamentais para manter o caracter das zonas ou das áreas cidades, não é só a arquitetura».
Quando se coloca a questão se é mais fácil construir de raíz ou reabilitar, «esta última é mais complicada, sendo uma atividade complexa que se tem vindo a desenvolver, em Portugal, com estirações fantásticas e que implicam, desde logo, um conhecimento aprofundado do que se vai mexer. Se for para reabilitar sistemas construtivos, técnicas de construção, novos materiais tudo isso implica um conhecimento aprofundado e rigoroso. A própria intervenção implica, também, esse conhecimento: por exemplo, apareceram uma série de especialidades novas, como é o caso da hidrotérmica», refere.
Matosinhos “tem vindo a proceder à reabilitação”
Em representação da Câmara Municipal de Matosinhos, Artur Côrte-Real, Chefe de Divisão de Projetos e Promoção de Obras da Câmara Municipal de Matosinhos, dá conta de que Matosinhos tem vindo a proceder à reabilitação, mas reforça que «reabilitação não é só edificado: numa ótica de município, é espaço público também. Temos edifícios, naturalmente, mas a grande área de intervenção, e aquela que é mais solicitada constantemente, é ao nível do espaço público».
“Ao nível do espaço público, Matosinhos tem vindo a implementar medidas de acessibilidade, novas tecnologias e infraestruturas”
No caso do espaço público, «temos um fator que é primordial na estruturação, que é a mobilidade», sendo que a reabilitação urbana «passa muito pela identificação dos espaços canais, dos espaços dedicados, e da forma de fazer essa aproximação do território», considerou. Neste sentido, o Plano Diretor Municipal de Mobilidade «é absolutamente crucial, porque is nos define as linhas e as estratégias todas que fazemos», acrescentou.
Artur Côrte-Real sublinha ainda que «tem que haver um equilíbrio na regeneração urbana e no perceber no que se pode fazer e até onde se pode ir», referindo que a «reabilitação como carácter histórico é uma coisa, mas esta atividade existe no sentido lato, e a Câmara opera muito mais nesse sentido».
De que forma o produtor de materiais assegura a implementação de boas práticas em obra?
No ponto de vista dos produtores de materiais, Miguel Duarte, Specification Manager da Mapei, enfatiza que primeiramente «temos de verificar aquilo que é a montante. Para verificarmos essa compatibilidade, e depois permitir com que todo o processo de execução em obra seja cumprido, há uma fase preparatória».
O responsável considera «essencial distinguir aquilo que é um projeto de reabilitação do projeto de construção nova, pois são vertentes distintas: a fase preparatória do projeto de reabilitação é mais rigorosa comparativamente à construção nova, pois existe um conjunto de fases para podermos chegar aos tais produtos que têm de ser cumpridos».
Neste seguimento, há duas «fases fundamentais»: conhecimento, «que se traduz numa cuidadosa análise visual dos elementos construtivos que queremos reabilitar»; em segundo lugar, aferir e averiguar o estado de conservação dos elementos construtivos. A partir dessa análise, «podemos facilmente chegar a um sistema e produto compatível que, depois em obra, é muito mais fácil todo o processo de organização e de explicação a quem vai executar». Por outro lado, também «é muito importante aferir e averiguar o tipo de acabamentos que encontramos nos edifícios e conhecer a composição química das argamassas».
Em representação do Grupo CIN, Paulo Nunes, Responsável de Prescrição do grupo, reitera que a reabilitação «traz-nos desafios acrescidos, pois temos de criar um produto que respeite o suporte, que proteja, e também a nível estético», acrescentando que na reabilitação «encontramos suportes mistos, na maioria das vezes, que exigem, da parte da arquitetura, que tenhamos uma uniformidade, uma leitura idêntica».
A CIN «preocupa-se muito com a qualidade dos materiais, associada à qualidade da construção, principalmente nos pequenos pormenores, como a tinta indicada. Em reabilitação, por exemplo, temos o desafio de ter uma tinta que respeite suportes antigos, com uma permeabilidade adequada. Devemos, também, ter uma leitura semelhante aquilo que são as paredes antigas», explicou Paulo Nunes.