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Porto: agenda ambiental já entrou na agenda imobiliária

Porto: agenda ambiental já entrou na agenda imobiliária
Paulo Palha, Presidente da ANCV

A crescente consciencialização sobre as alterações climáticas obriga a repensar os moldes em que o setor imobiliário se desenvolve. De facto, o setor imobiliário concentra quase 2/3 das emissões de carbono e a sustentabilidade dos edifícios representa cada vez mais uma prioridade nas estratégias das empresas, mas também para a população em geral.

Este foi precisamente o tema da sessão “Coberturas Verdes em Portugal: Estratégia, Conceito e Experiência”, coorganizada pela Associação Nacional de Coberturas Verdes (ANCV), que decorreu a 23 de novembro, parte da Semana da Reabilitação Urbana do Porto.

Paulo Palha, Presidente da ANCV, acredita que «a promoção de infraestruturas sustentáveis implica coordenar três tipos de stakeholders: Universidades, Municípios e Empresas». O objetivo é complementar novas fontes de investigação e conhecimento técnico com a estratégia municipal focada no bem-estar da população, sem descurar a posição das empresas enquanto executoras de projetos.

«Todas as cidades que avançaram com políticas de incentivo de vegetação nos edifícios não recuaram»

Existem inúmeras vantagens na implementação de coberturas verdes nos edifícios, entre as quais se destacam a componente térmica, especificamente a redução de calor excessivo/ efeito de estufa, a promoção da biodiversidade, a melhoria de qualidade acústica, e a capacidade de reter água da chuva.

«Em Portugal existe uma grande assimetria no que respeita à quantidade de chuva que chega a cada região do território, e os índices de radiação solar do nosso país são muito mais fortes do que noutros países da Europa, pelo que Portugal está numa boa posição para apostar neste tipo de inovação», afirma Paulo Palha.

Filipe Araújo, Vice-Presidente e Vereador dos Pelouro do Ambiente e Transição Climática da Câmara Municipal do Porto (CMP) também participou neste debate e esclareceu que o município procedeu a diagnósticos sobre a cidade e elaborou o seu Plano Diretor Municipal (PDM) com uma estrutura base assente no princípio de sustentabilidade.

«Realizámos uma radiografia do Porto para recolher evidências sobre anomalias técnicas da cidade que precisassem de ser solucionadas e existem variadas fontes de preocupação», tais como a variação da temperatura nos meses de verão e inverno, a degradação da qualidade do ar, e a capacidade para lidar com inundações, destaca Filipe Araújo.

Assim, muito do planeamento da CMP passou por desenhar e requalificar espaços verdes que pudessem prestar um contributo social à população. A título ilustrativo foram apresentados: o Parque da Asprela, pensado para ter um “efeito esponja” – parque pensado para ter características permeáveis e impedir que a agua seguisse para outras áreas prevenindo inundações; e a estação de metro da Trindade, com uma cobertura verde desenhada para cumprir um “efeito amortecedor” e garantir o isolamento acústico. No total foram identificadas um total de 131 coberturas verdes na cidade.

Dalila Sepúlveda, Chefe de Divisão de Serviços Urbanos da Câmara de Guimarães, também presente no painel de discussão acrescentou que também na cidade de Guimarães as coberturas verdes têm um papel social muito importante e partilhou um caso prático em que estas se revelaram essenciais para diminuir o desconforto da população. Em concreto, mencionou as oficinas de tratamento de resíduos e como em conjunto com um arquiteto foi possível introduzir as coberturas verdes nessas oficinas de forma a melhorar a qualidade do ar, reduzir o mau odor, e também conferir uma componente estética ao edifício.

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