O Mercado do Bolhão foi a obra em destaque na Semana da Reabilitação Urbana do Porto. Após quatro anos de obras de reabilitação e modernização, o emblemático edifício encontra-se provido de novas valências necessárias, que asseguram a posição do Bolhão como património económico, social e cultural da Invicta.
Projeto do Mercado do Bolhão
O arquiteto autor do projeto de reabilitação e de modernização, Nuno Valentim, trouxe o projeto-âncora como caso de estudo na primeira apresentação da conferência. O arquiteto destacou o Mercado do Bolhão como «um caso exemplar de decisão política e decisão arquitetónica, ou seja, que teve a sorte de ter um governo da cidade com a visão, instrumentos e conhecimentos para poder decidir bem», acrescentando que «não há arquitetura sem boas decisões políticas».
Nuno Valentim mostra que «o Bolhão estava muito maltratado, descaracterizado, abarracado, a roçar a total indignidade, apesar dos inúmeros valores construtivos humanos que tinha e continua a ter. O projeto procurou nunca esquecer o que sempre caracterizou o Bolhão». Ao exibir e comparar os antigos projetos propostos para a reabilitação do Mercado do Bolhão, podemos «perceber o porquê de este ter sido o escolhido: é de longe aquele que constrói menos, que ocupa menos espaço público e aquele que está mais fiel ao Programa de Mercados Frescos Municipal».
O arquiteto autor do projeto de reabilitação do mercado, sublinha que «havia uma intenção mais lata e mais vasta de que o Bolhão fizesse parte de uma ideia de cidade e, por isso, era fundamental não perder este património».
Versão económica da reabilitação do Mercado do Bolhão
Francisco Rocha Antunes, que liderou o Gabinete do Mercado do Bolhão (GMB), conjuntamente com a arquiteta Cátia Meirinhos, revela que «tivemos oito anos a preparar o processo de restauro e modernização do Mercado do Bolhão, que é a alma da baixa e da cidade». Considera que o «principal desafio foi tentar perceber que Bolhão pretendíamos fazer, sabendo de antemão que tínhamos de manter a alma do Bolhão e dar-lhe futuro. Portanto, o que fizemos foi conjugar o restauro com a modernização».
O "principal destino alimentar" do Porto
Francisco Rocha Antunes diz que hoje «temos um mercado de frescos como peça base de um conceito, que é transformar o mercado como principal destino alimentar da cidade com um conjunto de restaurantes que irão abrir no primeiro trimestre de 2023, uma galeria de produtos alimentares» etc.
Mesa-redonda de debate
Pedro Baganha, Vereador dos Pelouros do Urbanismo e Espaço Público e Habitação da Câmara Municipal do Porto, afirma que «os projetos anteriores cometeram muitos erros nas propostas de reabilitação do Mercado do Bolhão, e, com esses erros, a cidade foi aprendendo».
O vereador considera a reabilitação deste mercado como «uma metáfora do nosso programa político, porque é pegar em valores locais, em valores típicos, em valores pré-existentes, atualizá-los para o século XXI, sem os desvirtuar. Preparamos, talvez, o mercado para mais 100 anos de atividade». E, de facto, «é o que tentamos fazer na cidade do Porto: perceber que tudo aquilo que nos torna mais locais é aquilo que nos transforma numa cidade mais universal e que a modernização da cidade não deixa de lado os valores pré-existentes».
Cátia Meirinhos, Vice-Presidente do Conselho de Administração da GO Porto, recorda que «nas primeiras semanas ninguém acreditava em nós e foi muito difícil conseguir conquistar os comerciantes e convencê-los de que realmente alguém ia reabilitar o mercado e que isto ia finalmente acontecer. Atualmente, observam que finalmente o Município do Porto fez aquilo que tinha prometido».
Francisco Rocha Antunes refere que «quando os projetistas têm que desenvolver o projeto e já sabem qual é o programa, tudo fica bem articulado», acrescentando que «aquilo que foi complicado foi definir o programa: nós percebermos o que era necessário fazer para que o mercado mantivesse a sua autenticidade, mas que tivesse ao mesmo tempo futuro». Francisco Rocha Antunes revela ainda que «visitámos muitos mercados, conhecemos muitas outras soluções, e chegámos à conclusão de que o que tínhamos mesmo de fazer era o Bolhão».
Vasco Peixoto de Freitas, professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, destaca «o valor simbólico e o enorme valor construtivo do Bolhão» e que «as engenharias estiveram muito presentes, em particular a engenharia civil, principalmente na componente da física das construções, isto é, a reabilitação de um edifício como o do Bolhão pressupunha o respeito pelo edifício». Vasco Peixoto de Freitas considera que os múltiplos desafios foram tidos em consideração com estas duas ideias: o respeito enorme pelo edifício, assim como o respeito pela ideia, estratégia e o desafio arquitetónico».