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Mais habitações implicam maior expansão das acessibilidades

Mais habitações implicam maior expansão das acessibilidades
Sessão "Novas acessibilidades e valorização imobiliária: as oportunidades".

As novas tendências na mobilidade estão a moldar o ordenamento do território, a transformar as cidades e a valorizar as regiões. A pedonalização dos centros históricos e a expansão das linhas de Metro são exemplos claros. Qual é o peso desta mobilidade nas escolhas habitacionais? De que maneira a melhoria e a expansão das acessibilidades contribuem para enfrentar os desafios no setor habitacional? Foram algumas das questões abordadas na sessão "Novas acessibilidades e valorização imobiliária: as oportunidades".

Paulo Caiado, Presidente da APEMIP, constatou na abertura da sessão que «há algo que tem sido sistematicamente esquecido: garantir a todos o direito a uma habitação digna, com uma rede de transportes adequada assegurada». Reforçou que «mais habitação é indissociável de mobilidade mais abrangente, eficiente e sustentável. As medidas do pacote da habitação não contemplaram esta vertente».

O responsável pela APEMIP referiu que «o mercado imobiliário não se compadece com homogeneização dos preços, sendo que nos centros urbanos estes são consideravelmente superiores aos das periferias». Os dados disponíveis indicam que «estamos a assistir a um processo de descentralização, o que torna a mobilidade urbana e interurbana crucial no que concerne às habitações acessíveis. Os desafios são grandes e necessitam de ser vividos com entusiasmo», completou.

Estratégia da Metro do Porto

Tiago Braga, Presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, falou de três temas relacionados com a Metro do Porto: a importância na cidade, a estratégia e a conclusão das linhas que estão em curso.

Em 2017, foi realizado um inquérito de mobilidade na Área Metropolitana do Porto, revelando que, em média, cada cidadão consumia 70 minutos por dia em deslocações pendulares: «este dado sugere que as pessoas passavam mais tempo em deslocações diárias do que a duração das suas férias», notou.

"Desde o primeiro momento quisemos desenvolver algo eficiente"

«Rapidez em modalidade não é velocidade», frisou Tiago Braga, explicando que a rapidez «é traduzida por três atributos essenciais: pontualidade, frequência e regularidade. Estes atributos abrangem todos os períodos de espera». No inquérito de satisfação da Metro do Porto, «o principal ponto forte identificado é a rapidez, depois o conforto e a terceira dimensão a questão da intermodalidade». O responsável adianta que «percebemos que, devido a todas as suas dimensões, o nosso modo de transporte tem efetivamente a capacidade de atender às necessidades dos cidadãos devido às nossas variadas tipologias. Apesar de a rapidez ser o nosso ponto forte, observamos um sistema com características predominantemente radiais, que busca atender a canais paralelos».

O Presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto reforça ainda que «temos de combater a taxa de motorização que aumentou cinco vezes. Por muito investimento que tenhamos feito, não conseguiríamos acompanhar esse crescimento desmesurado. Por isso, procurámos desenhar uma rede que basicamente se transformasse verdadeiramente numa rede, passar de uma rede radial para uma rede em anel».

"Falar em mais habitação é falar em mais acessibilidade"

Na segunda apresentação da sessão, Ricardo Guimarães, Diretor da Confidencial Imobiliário, traçou uma visão de como o metro pode representar um fator de valorização imobiliária. «Fazemos o Micro-SIR e há um tempo fizemos uma análise daquilo que era a relação entre o metro e a valorização imobiliária». Na análise, «tentámos perceber, numa distância de 500 metros face às estações de metro, qual era o diferencial face à freguesia respetiva», chegando a algumas conclusões.

De facto, «este é um metro com características muito heterogéneas, estendendo-se desde áreas menos densamente urbanizadas até territórios densamente urbanizados». O diretor da Confidencial Imobiliário salientou que o metro «é disruptivo, no ponto de vista de criação de cidades» e que «há outras oportunidades de tentar desenhar as consequências no novo território resultante da oportunidade trazida pelas novas linhas de metro».

Novas formas de mobilidade

«Nós subestimamos o impacto da tecnologia a longo prazo e subestimamos o impacto a curto prazo. Tentando traduzir isto para o veículo automóvel, diria que nós subestimamos o veículo automóvel ligeiro a curto prazo, mas subestimamos o impacto no planeamento e na forma como construímos a cidade. Este princípio acabou por condicionar o que foi o desenvolvimento das cidades», apontou António Miguel Castro, Presidente do Conselho de Administração, Gaiurb – Urbanismo e Habitação.

«Ao mesmo tempo que criamos alternativas internas, temos de nos relacionar com os nossos vizinhos, e criar infraestruturas estruturais, como o metro, e simultaneamente explorar alternativas de impacto mais imediato», disse António Miguel Castro, exemplificando com o Metrobus, que «não foi uma alternativa imediata, mas que já está em funcionamento, ainda numa pequena dimensão, sendo um protótipo que está a funcionar com elevado sucesso». Neste seguimento, a nossa oferta deve ser uma «espécie de canivete suíço de forma integrada».

Na opinião de Pedro Baganha, Vereador, Pelouro do Urbanismo e Espaço Público e Pelouro da Habitação da Câmara Municipal do Porto, «estamos viciados em caracterizar os modos de transporte pelos veículos que são utilizados. Por exemplo, o primeiro veículo adquirido pelo Metro do Porto opera no Porto como um serviço de metro, enquanto em Estrasburgo desempenha outro tipo de função. Ou seja, a eficácia do sistema é determinada pela forma como é montado»

Quais as vantagens competitivas da Metrobus na mobilidade?

Numa análise custo-benefício, «este sistema de Metrobus é muito mais barato e rápido de implementar do que um sistema de metro ligeiro». Como inspiração, «observámos outros exemplos de cidades médias europeias, com soluções interessantes neste âmbito», por exemplo, «há cidades em França que são bons exemplos na construção de sistemas híbridos de transporte coletivo, como é o caso da cidade de Nantes», referiu Pedro Baganha.

«A solução para a mobilidade urbana reside na necessidade de cada um de nós, enquanto cidadãos intermodais, adaptarmos o nosso comportamento. É crucial assegurar a frequência, fiabilidade e rapidez do sistema», completou.

Tiago Braga, Presidente do Conselho de Administração da Metro do Porto, considerou que «não há uma bala de prata em mobilidade: a gestão da mobilidade obriga a uma visão holística sobre um problema que é de facto mais complexo do que uma resposta de sim ou não».

Apesar das «evidências negativas que observamos no quotidiano, de facto enfrentamos congestionamentos significativos. Parte deste processo de transformação causa desconforto numa fase inicial», sublinhou, acrescentando que «chegará o momento onde vamos ter de refletir sobre este problema». O responsável adianta ainda que «faz-me muita confusão», o facto de o «estacionamento à superfície implica que, durante 8 horas, temos 10 metros quadrados de espaço urbano ocupado por 1.6 pessoas. Este cenário suscita a necessidade de refletir sobre a situação, sendo crucial criar as condições para uma mudança de comportamento que requeira um raciocínio diferente. Portanto, temos de continuar a investir nos transportes coletivo».

Proximidade ao metro é determinante na escolha de escritórios

Do lado da promoção imobiliária, Artur Varum, CEO da Civilria, revelou que «uma das primeiras perguntas que um cliente nos faz, quando procura um escritório, é a quantos minutos estamos do metro. É um fator decisivo para a escolha do cliente». Em contrapartida, no residencial, «penso que ainda não temos o impacto dos preços a valorizarem-se pelo facto da proximidade ao metro. Na venda também não notamos também que o preço do imóvel seja valorizado pelo facto de estar muito próximo do metro». No entanto, reforçou que «é um fator decisivo que aumenta claramente a velocidade das rendas».

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