A última sessão da Semana da Reabilitação Urbana do Porto, que encerrou o último dia do evento, debateu a forma como o Grande Porto entrou na rota do investimento, tornando-se hoje a primeira escolha de muitas empresas nacionais e internacionais que trazem consigo procura acrescida por talento, espaços de trabalho e habitação.
A sessão abriu com Domingos Silva, vice-presidente Norte da APEMIP, que defendeu a reabilitação como “uma das formas mais inteligentes e sustentáveis” para responder à urgência habitacional, lembrando que o desafio passa por “inverter a lógica do envelhecimento habitacional”. Sublinhou que reutilizar e adaptar edifícios existentes reduz a pegada ambiental e permite respostas mais céleres, acrescentando que “para que esta agilidade seja real, precisamos de estabilidade”. Reiterou ainda que “as cidades têm de ser construídas para todas as idades” e que é essencial “ter capacidade para olhar para o património existente”, sublinhando que esse trabalho “nasce da inteligência de dar nova vida ao que já existe”.
Seguiu-se a análise da Savills, apresentada por Mariana Represas, Associate Diretor, e Francisco Megre, Senior Consultant, que evidenciou que o Porto voltou a ganhar residentes nos últimos anos, muito impulsionado pela reabilitação urbana, e que o crescimento do talento qualificado tem sido determinante para atrair empresas. Destacaram ainda o aumento consistente do investimento estrangeiro (fator determinante de crescimento), o dinamismo do turismo, a evolução positiva dos licenciamentos habitacionais e o crescimento dos escritórios.
Na vertente económica, o economista Carlos Guimarães Pinto afirmou que Portugal vive “o melhor momento económico desde a entrada na CEE”, beneficiando de fatores externos favoráveis e de condições internas como segurança, qualidade de vida e clima. Alertou, contudo, para erros de planeamento estratégico, apontando a “falta de terrenos para construção, porque o planeamento do território não o permite”. Ao nível autárquico, “há vários erros estratégicos e o metro do Porto é um exemplo: há enormes descampados à volta de várias estações do Metro do Porto, que deveriam ter grandes aglomerados urbanos, com menos estacionamento”, apontou.
Já Filipe Grilo, Head of Applied Research da Porto Business School, defendeu que Portugal deve ser pensado “como um conjunto de empresas” capazes de aproveitar oportunidades globais, exemplificando com o futuro data center de Sines: “quando estiver pronto, Sines tem de ter o triplo da população”, insistindo na necessidade de “planear antecipadamente legislação de construção”.
No que concerne a projetos, Francisco Rocha Antunes, Chief Development Officer da +urbano, apresentou o Central Freixo, explicando que a intervenção começa pelas infraestruturas e pela remediação dos solos, criando “dois níveis de intervenção que ligam os edifícios existentes e os novos e os espaços verdes que serão ainda criados”. Afirmou que “não será nunca um condomínio fechado” e que incluirá apenas um edifício de escritórios e algum comércio de apoio. Destacou ainda que o progresso será faseado: “progressivamente vamos ocupando o território, mas reabilitá-lo à partida, e tudo o que é espaço público será reabilitado numa primeira fase”. Segundo o arquiteto Eduardo Souto de Moura Souto Moura, “neste projeto, tudo é feito em função do rio […] A nova cidade do Porto vai ser aqui”.
No caso do HOP – Heart of Porto, António Pereira, diretor de investimento da Quest Capital, explicou que a empresa, em conjunto com a Tikehau, pretende dar “nova vida ao La Vie Porto”. O projeto inclui “15.000 m² de escritórios, mais de 8.000 m² de retalho, 416 lugares de estacionamento” e representa “um investimento superior a 60 milhões de euros, mais de 25 deles são obra”. Destacou que o objetivo é “captar as melhores empresas que querem oferecer aos seus trabalhadores os melhores espaços”, com áreas amplas e flexíveis, muita luminosidade e um conjunto de amenities. Revelou ainda operadores já confirmados, como “a Mercadona, que terá aqui 1.000 m²”.
Mesa-redonda de debate

A mesa-redonda moderada por Gustavo Soares, diretor da Delegação Regional Norte da APEMIP, arrancou com Pedro Ramos, Chief Business Development Officer da EMERGE – Mota-Engil Real Estate Developers, que defendeu que o setor precisa de “ser resiliente”, explicando que, no antigo Matadouro de Campanhã, a empresa procura “acrescentar valor além da promoção imobiliária isolada”, criando comunidade e novas valências que reforcem a rentabilidade. Sublinhou ainda que “olhamos para esta zona como um ecossistema e é isso que nos permite maior rentabilidade”, acrescentando que “nada do que façamos agora vai responder completamente às necessidades que já temos há algum tempo”, razão pela qual é crucial “planear para o futuro” e garantir condições para “atrair investimento confiante”.
Também Aniceto Viegas, CEO da Avenue, reforçou a importância da transformação estrutural do Porto, lembrando que zonas como Fernão de Magalhães “mereciam ser ligadas ao centro da cidade”. Considerou que o Porto “soube fazer o trabalho necessário nas universidades”, tornando-se “um dos melhores polos universitários do país”. Segundo o responsável, a cidade, que “não tinha mercado de escritórios”, é hoje parte das “estatísticas internacionais”, consequência de uma estratégia que combinou reabilitação, captação de investimento e promoção externa, nomeadamente “através da InvestPorto”. Afirmou que “a semente está posta” e que o Porto tem ainda “grande potencial de crescimento a nível empresarial”.
Seguiu-se Ricardo Valente, Diretor-Geral da Savills Porto, que salientou que o mercado vive “um momento diferente”, com “crescimento mais seletivo dos vários segmentos de mercado” e uma vantagem competitiva clara: “estamos numa região em que estes municípios têm capacidade de licenciamento acima da média nacional e isso é importante na dinâmica do mercado, temos capacidade de produção”. Realçou ainda que “não temos sobreoferta; temos uma lógica diferente até por dinâmicas de espaço, várias zonas da cidade não têm mais solo disponível”.
Marta Pontes, vereadora de Matosinhos, destacou o “clima de confiança” que tem potenciado o desenvolvimento económico das cidades. Recordou que Matosinhos evoluiu de um território marcado pela logística para um município capaz de atrair empresas graças às suas infraestruturas e talento. Sublinhou que “temos um rendimento médio 10% acima da média nacional, somos o 5.º concelho com maior poder de compra e um dos que têm menos pessoas a receber o salário mínimo”. Acrescentou que estes resultados decorrem de “uma estratégia de retenção de empresas que mantenham as pessoas nas cidades e acrescentem valor”. Para Marta Pontes, “a abordagem junto das pessoas que trabalham junto do talento é muito importante, também simplificar os procedimentos burocráticos. Muitas das vezes temos também de assumir a burocracia”.
Por outro lado, Hugo Beirão Rodrigues, vereador da Câmara Municipal do Porto, sublinhou que “agora é tempo de projetar o futuro, perceber a questão da retenção de talento, olhar de novo para os PDMs, olhar para as cidades de forma agregadora e integradora, e não só para o nosso território circunscrito”. Defendeu que a mobilidade deve estar “no centro de todo este processo” e, sobre o Metro, reforçou que “desejamos a segunda fase de expansão, que esta fase atual nos traga benefícios além das dificuldades que já trouxe, e temos de pensar na fase seguinte. Temos de preparar as próximas décadas”.