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Industrialização garante rapidez e previsibilidade, mas continua sem escala em Portugal



                      Industrialização garante rapidez e previsibilidade, mas continua sem escala em Portugal
Sessão “Construção industrializada – Acelerar a oferta de habitação!”.

A primeira sessão do terceiro dia da Semana da Reabilitação Urbana do Porto abriu com um debate centrado na construção industrializada e no seu potencial para dar resposta à escassez de mão-de-obra, aos atrasos das empreitadas e à necessidade urgente de aumentar a oferta habitacional.

No arranque da conferência, José Manuel Sousa, Bastonário da Ordem dos Engenheiros Técnicos, afirmou que Portugal continua com “fraca tradição de pré-construir ou pré-produzir”, sublinhando que “os técnicos só podem ajudar na vertente técnica, sensibilizando os políticos para dar aos promotores as condições para seguir os seus investimentos”. Identificou como principais vantagens do pré-fabricado a rapidez de construção, maior previsibilidade, redução de atrasos, aumento da qualidade final e ganhos de produtividade. A par disso, alertou para fragilidades como custos de transporte, necessidade de mão-de-obra especializada e perceções ainda negativas sobre edifícios pré-fabricados.

José Rui Pinto, Diretor Técnico-Comercial da KREAR, mostrou exemplos de obras já em curso e sublinhou que o sucesso da construção industrializada “depende de planeamento rigoroso, sobretudo em termos de custos e espaço”. Reconheceu que “o país é muito conservador e avesso a mudanças, e não está preparado para a mudança necessária”, ainda que a falta de mão-de-obra esteja a acelerar o interesse pelo modelo. Destacou que a industrialização, quando bem planeada, permite maior sustentabilidade e previsibilidade, referindo que a KREAR trabalha com uma “árvore de decisão” que integra pilares económicos, ambientais e sociais.

O debate intensificou-se na mesa-redonda moderada por Cristina Cardoso, vice-presidente da Ordem dos Engenheiros Técnicos, com Álvaro Santos, vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, a enfatizar que “precisamos de respostas das políticas públicas e a habitação está na agenda do dia. Nós estamos muito focados no nosso compromisso de construir 4.000 fogos nos próximos 4 anos, praticamente duplicando o parque habitacional público existente. Não é por falta de dinheiro, temos acordo já estabelecido com o IHRU, e teremos mais oportunidades de financiamento. Precisamos de capacidade técnica para vencer os desafios”.

Da perspetiva das empresas, Luís Laranjeira, diretor comercial da Blufab, unidade de construção off-site do Grupo Casais, destacou que a chave está na “escala e repetição”, acrescentando que “temos incorporado muitas soluções industrializadas em edifícios de construção tradicional; esse pode ser o caminho para a transição, testando as soluções pouco a pouco. E, depois disso, dificilmente os clientes voltam atrás, porque percebem os benefícios e comparam os custos”.

Também Paulo Pacheco, da Civilria, afirmou que “ainda precisamos de escala, o mercado é muito fragmentado, constituído por obras de pequena e média dimensão. A partir do momento em que se consiga a escala, o custo por si só acaba por se reduzir, porque o investimento em fábrica, processos logísticos e tecnologia acaba por ser mais facilmente absorvido”. Sublinhou ainda que os engenheiros “terão um papel fundamental nesta transição, têm todas as competências para transformar o modelo tradicional num modelo industrial”.

José Rui Pinto, Diretor Técnico-Comercial da KREAR, sublinhou que o planeamento continua a ser “chave para conseguir dar resposta”, gestão de equipas e eficiência. Explicou, também, que “é mito que a industrialização condiciona a criatividade dos arquitetos; é só por desconhecimento. Quando temos contactos com os arquitetos eles percebem perfeitamente a solução e o nosso conceito. Nós temos fábrica automatizada e fábrica manual”.

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