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Imobiliário está muito ativo em busca da industrialização

Imobiliário está muito ativo em busca da industrialização
Sessão "Construção mais eficiente: como reduzir os custos?".

Desafios como a escassez de mão de obra e o aumento nos preços dos materiais de construção são apontados como os principais obstáculos à atividade das empresas no setor da construção e do imobiliário. De que forma uma construção mais eficiente pode diminuir os custos? Qual é a ligação entre um projeto bem concebido e a economia dos preços? Estas e outras questões marcaram a sessão "Construção mais eficiente: como reduzir os custos?", no primeiro dia da Semana da Reabilitação Urbana do Porto.

Na primeira apresentação da conferência, António Monteiro, Managing Partner da A400, salientou que a empresa, que pretende transformar o futuro com engenharia, tecnologia e sustentabilidade, tem «trabalhado muito na otimização do processo, de projetos de estruturas», referindo a reconversão e exploração do Antigo Matadouro Industrial do Porto, onde a A400 está a desenvolver todos os projetos de engenharia desta infraestrutura.

Maior eficiência no processo construtivo e menor erro durante a execução

O grande desafio hoje assenta no facto de «como vou fazer mais com menos e mais rápido?», reflete António Monteiro, acrescentando que «o nosso foco hoje é esse, é fundamental trabalharmos com objetivos, tendo em vista uma maior eficiência no processo construtivo e menor erro durante a execução». Na ótica da engenharia, «para fazermos cada vez melhor precisamos de mais estudos. Alinhar interesses é o grande desafio para todos». Ao falar sobre o BIM, «um universo de software que nos permite fazer muitas coisas», António Monteiro deu conta de que «sentimos o mercado muito ativo em busca da industrialização, sempre muito ligado com a sustentabilidade».

Com uma perspetiva orientada para uma construção mais eficiente, Nuno Fonseca, Diretor da Área Norte da SANJOSE Constructora, colocou a questão à plateia: como pode uma construção mais eficiente reduzir custos? Na ótica do responsável, «investindo mais tempo em projeto; investir na promoção de coerência entre especialidades, dado que investimos pouco nisto e os softwares são uma ajuda preciosa neste quesito; aplicar conceitos de industrialização desde a fase de projeto; sistematizar soluções construtivas, sendo que com esta sistemização, a empresa poderá produzir em série». A resposta da indústria a estes desafios assenta, por exemplo, «no reforço do investimento na formação e capacitação dos seus recursos humanos, bem como na aposta no BIM».

Indústria com desafio de construir mais rápido, com menos recursos

A mesa-redonda de debate reuniu especialistas das áreas da engenharia, construção e materiais, bem como dirigentes associativos e economistas, para um debate esclarecedor sobre os desafios de conter os custos de construção e a oportunidade que a tecnologia representa para o setor.

«Quando pensamos em construção pensamos em algo tradicional, mas na verdade somos mesmo isso, uma indústria, que faz acontecer algo que alguém projetou, mas que tem de fazer toda uma gestão de parceiros e fornecedores para fazer acontecer aquilo que o cliente quer», explicou António Carlos Rodrigues, Vice-Presidente da AICCOPN. Como principal constrangimento ao setor, o representante da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas aponta os licenciamentos – «qualquer indústria precisa de uma grande previsibilidade naquilo que vai fazer, precisa de saber com que materiais e recursos pode contar. Precisamos que estes fatores externos sejam simplificados, para conseguirmos desempenhar o nosso papel».

"Temos uma indústria que tem algumas ineficiências, influenciadas pelo próprio contexto"

De acordo com as palavras de António Carlos Rodrigues, «pelo facto de sermos um país pequeno, não conseguimos ter uma fábrica que tem uma escala de produção para várias empresas, assim como acontece na Alemanha, temos muita dificuldade em introduzir esses standards».

"Temos de aumentar a atratividade do nosso setor"

Para o Vice-Presidente da AICCOPN, «precisamos de políticas que permitam trazer mão de obra que possa depois ser qualificada. Tudo isto está cruzado com esta alteração na forma de trabalho. Aquilo que mais afasta é a pouca atratividade da tarefa tradicional e depois o próprio processo, que está inerente à gestão destas imprevisibilidades» Fatores como o stress e as tensões «que se vivem entre todos os intervenientes na obra, criam um ecossistema de tensão que não é razoável», acrescentou. Neste seguimento, «cabe-nos a nós em resolver este problema começando por criar melhores empregos e fazê-lo de uma forma que faça com que as pessoas sintam apoio», completou.

Na perspetiva de Francisco Rocha Antunes, Chair, Urban Land Institute Portugal, «temos de conseguir fazer isto de uma forma mais racional do ponto de vista da construção», dado que «estamos com vários desafios ao mesmo tempo: redução dos custos, que tem que ver com o desafio da acessibilidade à habitação; a sustentabilidade, visto que estamos na véspera de uma profunda transformação do setor imobiliário. Há um conjunto de normativas que vão fazer com que a maneira como construímos até agora seja profundamente alterada».

Na opinião do responsável, «há um novo tipo de investidor» que segue o «princípio da multi-materialidade; as empresas têm de somar o ter lucro com o impacto que vai ter na sociedade e, ao mesmo tempo, têm de reduzir custos. Temos de encontrar formas de ultrapassar isto, de uma forma mais sustentável». Para Francisco Rocha Antunes, «temos um problema adicional: não temos escala para a industrialização, temos de ter volume para absorver essa produção. É um problema que não acontece somente em Portugal, mas estamos numa situação mais frágil por conta da nossa dimensão e rendimentos».

Na que toca a ter mais mais pessoas qualificadas no setor, «precisamos de lhes dar um propósito novo, que não é difícil de imaginar: temos 39% de impacto na pegada de carbono coletiva. Alguém que esteja preocupado com a descarbonização do planete, não há melhor sítio do que este para marcar a diferença», justificou

Está a indústria alinhada para estes desafios?

«É hoje aceite que, no contexto do modelo de construção que possibilitará ganhos de escala e aumento de eficiência, a industrialização desse mesmo modelo é fundamental. Assim, alinhar a fileira e a cadeia de valor é essencial, sendo as construções modulares a solução», explicou Carlos Baião Cruz, CEO, Viroc.

O responsável apontou dois desafios para a indústria: «a escala, que é indispensável para alcançar ganhos de eficiência; a a implementação de um modelo de otimização desses processos industriais, uma vez que apenas dessa forma é possível garantir que esses ganhos evoluam e se ajustem às exigências do mercado no futuro». Carlos Baião Cruz deu conta ainda que a rentabilidade mínima, para um produtor de módulos de construção industrializada, «situa-se na ordem dos mil módulos por ano, ou seja, nenhum produtor de módulos terá rentabilidade se não conseguir reproduzir mil módulos por ano. Este é o tipo de desafio que a indústria enfrenta e vai enfrentar nos próximos anos».

Quanto à construção customizada, o responsável referiu que esta «só leva a excessos de custo, jamais levará a eficiência. Portanto, empresas terão de entender que o seu modelo precisará de ser adaptado. Os fabricantes de módulos têm de perceber que têm de manter o pipeline de encomendas e é preciso que as empresas construtoras percebam que há que alimentar este pipeline».

O cliente preocupa-se com o ser mais eficiente?

Na experiência da Perfisa, que prega a construção sustentável há mais de 30 anos, «os nossos clientes procuram uma solução mais técnica e eficiente», disse Gonçalo Martins, Administrador da Perfisa, acrescentando que «atualmente, o consumidor está mais informado e procura soluções melhores»

Quanto ao aumento dos preços, a «construção mais moderna pode oferecer mais vantagens para combater este problema que atravessamos», acrescentou. Para isso, «temos de construir hoje a contar com o dia de amanhã e é em parceria que temos de fazer: é uma fileira completa. Temos também de estar sempre a renovar o nosso conhecimento».

"Todos nós, enquanto elementos desta engrenagem, devemos ser mais profissionais e incentivar uma perspetiva diferente sobre o que constitui um custo imediato e um custo efetivo"

Na Fassa Bartolo a ambição é de ter «uma mão de obra cada vez de mais qualidade, que saiba aplicar bem aquilo que resulta da nossa investigação de desenvolvimento, que é fortíssima, um trabalho diário que advém do imput daquilo que as obras nos dão, mas sobretudo daquilo que a própria revolução da construção nos tem trazido», avançou Pedro Tomás, Chefe de Vendas da Fassa Bortolo, acrescentando que «o que fazemos todos nos dias na rua é formar as pessoas novas que estão na construção, sendo de extrema importância para nós contribuir para que aquilo que está a ser feito seja aprimorado continuamente».

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