A atração de investimento esteve no centro do debate na Semana da Reabilitação Urbana do Porto. Na conferência "Atrair investimento ao território - O papel do Estado, das Autarquias e dos Stakeholders", Ricardo Valente, vereador do Pelouro da Economia, Emprego e Empreendedorismo da Câmara Municipal do Porto, sublinhou o posicionamento estratégico da região. «Temos hoje cerca de 500 mil utilizadores reais da cidade, somando quem vive, trabalha e visita diariamente. Isto reflete o papel do Porto como um verdadeiro centro económico regional», afirmou.
O impacto do turismo também foi destacado, com um crescimento significativo dos proveitos nos alojamentos. «Mais de um milhão de não residentes chegam ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro, e os americanos já lideram em termos de gastos com cartão na cidade», referiu Ricardo Valente. Entre os principais desafios e oportunidades, o vereador apontou a necessidade de «mais habitação e escritórios para responder ao aumento da procura», e destacou o papel da linha de alta velocidade como um projeto que «transformará a perceção espacial e as dinâmicas empresariais do país».
Com objetivos claros na redução de emissões de gases com efeito de estufa até 2030, o Porto lidera entre as cidades portuguesas no cumprimento das metas climáticas. Segundo Ricardo Valente, «somos uma cidade com condições para crescer economicamente, mas também com uma sociedade responsável pelo seu futuro em termos de sustentabilidade». A cidade tem ainda marcado posição no panorama internacional: «estamos no pódio das cidades pequenas e médias em atração de investimento estrangeiro», acrescentou.
Norte no radar do investimento global
A visão do Grande Porto enquanto motor de atração de capital foi complementada pela apresentação da Savills, representada por Isabel Rocha, Pedro Figueiras e Frederico Leitão de Sousa. «Portugal está no mapa, e percebemos a relevância que a região Norte tem vindo a assumir», destacaram os responsáveis. Com rendas prime de 21 euros por metro quadrado, o Porto apresenta-se como uma opção mais competitiva que Lisboa (28 euros/m²) e que outras cidades europeias. «O mercado é promissor, temos um pipeline com novos produtos de qualidade; o investimento estrangeiro tem impulsionado a economia e a criação de emprego», salientaram.
Por outro lado, o Grande Porto «é o motor da indústria nacional, talvez o setor mais relevante, tendo como principais mercados os europeus». A localização estratégica e a estabilidade da região são fatores decisivos, especialmente num contexto global marcado por tensões geopolíticas. «Este é dos mercados mais competitivos, em termos de rendas. Temos nova vaga de promoção, com novo produto e de qualidade, temos mais energia renovável, energia independente de conflitos e tensões geopolíticas», indicaram os representantes da Savills. Com 25% dos estudantes do ensino superior na Área Metropolitana do Porto, a região destaca-se pela produção de talento, com cidades como Braga e Aveiro também a atrair investidores. A segurança e estabilidade da região também são «decisivas para a atração de multinacionais para o Porto», afirmaram os responsáveis na sua apresentação.
Mesa-redonda de debate
A Semana da Reabilitação Urbana do Porto trouxe um debate crucial sobre as oportunidades e os desafios do mercado imobiliário da região. Marta Pontes, Vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos, destacou a vantagem competitiva do Greater Porto, uma região que se tem revelado uma escolha estratégica tanto para o setor empresarial como para o turismo. «O Greater Porto é logo uma vantagem muito competitiva. Este destino oferece uma complementaridade de experiências que se refletem no estilo de vida, em Matosinhos e no que a cidade agrega ao Porto. É o que nos permite um crescimento de 30% ao ano nos indicadores do turismo», afirmou a vereadora.
Marta Pontes sublinhou ainda o papel da região na indústria, mencionando que «temos agora uma estratégia relevante para captar investimento para a indústria, esta é a região mais importante do país ao nível da indústria. Temos mão-de-obra altamente qualificada que nos responde a estes setores transacionáveis e temos fornecedores de subprodutos que podem dar escala a estas indústrias».
A intervenção de António Miguel Castro, Presidente do Conselho de Administração da Gaiurb, focou-se na mudança de mentalidade que tem marcado a evolução da cidade. «O que mudou drasticamente foi deixarmos de pensar pequeno. Passámos a olhar para o Porto não como um inimigo. O papel das entidades políticas é sobretudo de estratégia. Estamos a tentar deixar as coisas diferentes do que recebemos. Muda a cultura, a vontade de fazer as coisas, a escala com a qual nos debatemos, e cria novas hipóteses para quem quiser trabalhar em qualquer lado da Área Metropolitana do Porto».
"Olhar antes para o Porto e agora para o Greater Porto, é totalmente diferente"
Aniceto Viegas, CEO da Avenue, acrescentou que «esta postura demonstra uma grande maturidade», principalmente para investidores. «Quando alguém olha para um mercado e pensa num investimento, pensa em escala, para responder aos ciclos ascendentes ou descendentes. E o Porto tem essa escala. A habitação é mais forte e atrativa», explicou. Aniceto Viegas sublinhou ainda que o mercado de escritórios no Porto evoluiu muito rapidamente nos últimos anos, refletindo o dinamismo da cidade. «Olhar antes para o Porto e agora para o Greater Porto, é totalmente diferente», acrescentou.
Alexandre Fernandes, Executive Director, Developments - Europe da Sonae Sierra, reforçou a confiança no mercado imobiliário da região, apontando as várias áreas de investimento. «Vemos claramente potencial no mercado comercial e residencial. Continuamos a ter excelente desempenho nos centros comerciais. Vemos também oportunidades no mercado de escritórios, nomeadamente na prestação de serviços, com o nosso novo projeto com o Grupo Ferreira. Também na hotelaria, temos um fundo de investimento novo que já está a investir no Porto», revelou. «Os fundamentais estão cá, há muita procura, oferta escassa, condições de financiamento, muitos investidores a querer entrar no mercado, é uma grande oportunidade», reiterou.
Pedro Coelho, CEO da Square Asset Management, comentou a diversidade dos veículos de investimento disponíveis, destacando a flexibilidade das opções. «Temos veículos de investimento muito distintos, com maiores ou menores poupanças. Só não fazemos residencial. Não temos problemas de investir nesta zona do país. Lançámos um segundo fundo há 4 anos e, no mês passado, atingiu os 100 milhões de euros», disse o responsável pela Square AM.
"A questão da mobilidade continua a ser central"
Um tema recorrente durante o debate foi a questão da mobilidade. Marta Pontes apontou que «a questão da mobilidade continua a ser central» e destacou o trabalho da Câmara Municipal de Matosinhos em antecipar soluções para melhorar a conectividade, como a linha de metro-bus em parceria com a Galp. Para António Miguel Castro, a chave para um crescimento sustentável passa pela adaptação e pela inovação no planeamento urbano. «Temos de pensar nas coisas para atingir uma proposta de valor única. O município tem de ser empreendedor, perceber que, se os PDMs são mais complexos, fazer planos de pormenor», afirmou.
Alexandre Fernandes abordou a importância de um crescimento urbano sustentável, salientando que «há que tratar e requalificar o património existente, nomeadamente na componente ambiental, nas técnicas de construção, no social. As pessoas têm de se sentir bem e perceber que fazem parte de uma comunidade». Aniceto Viegas referiu ainda que o «Porto representa 15% da procura nacional de habitação, o que sublinha a dimensão do mercado e a oportunidade que ele representa».
Sobre a mobilidade, «basta ver o que está no terreno, que alarga o território; há grande necessidade de renovação e valorização do parque existente. Há matéria-prima», acrescentou o responsável pela Avenue. Pedro Coelho concluiu que, do ponto de vista do investidor, o Grande Porto se tem revelado uma escolha estratégica, até em comparação com a Grande Lisboa. «do ponto de vista do investidor final, por vezes, é mais fácil investir no Grande Porto do que na Grande Lisboa», afirmou o CEO da Square AM.