A construção sustentável está na agenda. Alcançar casas mais eficientes e sustentáveis é o desafio de promotores, construtores e empresas de materiais. A Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa deu voz a estes profissionais que partilham algumas das mais recentes e melhores soluções, sistemas e materiais na transição para a "construção verde", na conferência "Construção sustentável – A inovação em curso", com o apoio da Saint-Gobain Portugal e da Reynaers Aluminium Portugal.
Na sua intervenção, Manuel Duarte Pinheiro, Professor Associado com Agregação IST – DECivil, referiu que os ambientes construídos «contribuem estruturalmente para o desenvolvimento», acrescentando que a nível da energia «temos caminhado para o quase energia 0». O responsável enfatizou que, cada dia mais, «a descarbonização e a gestão da água são fatores consideráveis nas agendas» e que «temos o desafio para a procurar a sustentabilidade».
Manuel Duarte Pinheiro, na qualidade de responsável pelo sistema LiderA de orientação e certificação da sustentabilidade na construção, falou ainda sobre este sistema voluntário que orienta e certifica ambientes na procura de sustentabilidade no edificado e outros ambientes construídos. O LiderA desenvolve uma abordagem integrada abrangendo aspetos ambientais, sociais e económicas.
Rita Bastos, Diretora de Marketing da Saint-Gobain Portugal, apresentou um case study da renovação de um hotel no centro de Madrid. Referindo que a Saint-Gobain «pensa no ciclo de vida do edifício», Rita Bastos conta que durante a obra, foram tidos em conta fatores como «a melhoria da eficiência energética dos edifícios e a descarbonização do método de construção».
As propostas da Saint-Gobain Portugal, neste edifício, foram: soluções exteriores, divisória e tetos, janelas e solução HVAC, indicou a responsável, acrescentando que este «é um case study que traduz o nosso propósito, alinhado com a intenção de mudança e em linha com os últimos investimentos da Saint-Gobain».
Na terceira apresentação da conferência, Maria Santos, Diretora do Departamento A400Green, no que diz respeito à digitalização, sublinha que «temos tido um forte compromisso com a sustentabilidade e acreditamos que a engenharia de sustentabilidade é essencial», salientando que o foco «está nas pessoas, nos utilizadores e todo o processo pretende obter um resultado que contribua para uma vivência e uma experiência harmoniosa com o ambiente».
Para Maria Santos é possível conseguir um projeto mais sustentável «através da adoção de práticas e princípios sustentáveis», adiantando que «estamos a criar um indicador de pegada de carbono e queremos ver esta pegada e esta escolha refletida na sustentabilidade para ajudar o cliente a tomar uma decisão mais consciente».
Ricardo Vieira, Managing Director Reynaers Aluminium Portugal, salienta que a Reynaers compromete-se a «contribuir para desafios edifícios sustentáveis, desenvolver produtos circulares, reduzir a pegada ecológica e a ser uma empresa que se preocupa com as pessoas».
O responsável sublinha que a empresa estabeleceu «um conjunto de ações para reduzir o consumo de energia: desenvolvendo produtos energicamente mais influentes (expandido a certificação do desempenho térmico)». Adiantou, também, que pretendem «integrar dados de sustentabilidade nas nossas ferramentas digitais e guiar parceiros para uma abordagem holística à sustentabilidade».
“Há um longo caminho a percorrer, temos de continuar a insistir nesta cultura”
De acordo com as palavras de Ana Graça Goite, Responsável do Departamento da Qualidade e Ambiente, Grupo SANJOSE Portugal, «é preciso haver uma consciência maior, o mercado precisa de ter mais soluções». Para a responsável, «todos têm de estar envolvidos, quanto mais informação existir mais as pessoas ficam sensibilizadas a esta temática».
Exigência no segmento residencial vs segmento comercial
Questionada pelo moderador do debate Hugo Santos Ferreira, Presidente da APPII, com o facto de o segmento residencial ser pouco exigente com as questões da sustentabilidade, a passo que o segmento comercial tem em conta estas exigências, Ana Graça Goite concorda que de facto temos «dois mundos separados dentro do que é a fileira da construção e do imobiliário».
A responsável salienta que até os dias de hoje, em Portugal, «não fizemos nenhum projeto, na certificação sustentabilidade para o que é habitação». O produto que é colocado vem de determinado projeto e «é um produto, que visa muitos aspetos, onde por vezes a sustentabilidade não é o mais importante», explica.
Portanto, nessa área da habitação de facto ainda «não se está ao mesmo nível que as outras áreas que referimos», reforça, adiantando que «tendencialmente, um dia estará ao mesmo nível: todos têm de contribuir para isso, começando pelo dono de obra que tem de exigir e procurar esses critérios. Por outro lado, o próprio mercado tem de oferecer mais produtos amigos do ambiente».
Ana Graça Goite conta ainda que «o nosso trabalho com os donos de obra é constante, colaboramos e, havendo este investimento privado, é mais fácil começarmos logo a colaborar na fase da própria conceção do projeto com alternativas».
“Evoluir de uma evolução tradicional para uma construção muito mais industrializada”
José Martos, CEO da Saint-Gobain Portugal, afirma que a indústria «tem de procurar soluções muito mais eficientes, evoluindo de uma evolução tradicional para uma construção muito mais industrializada, não só pelo tema do custo dos materiais, mas também pela falta de mão de obra».
“Indústria tem de ter a capacidade de se readaptar ”
Face à inflação, o aumento dos custos de construção e a falta de mão de obra, Paulo Ferreira, Responsável Delegação Portugal da Schlüter-Systems, refere que «a indústria tem de ter a capacidade de se readaptar e encontrar soluções mais inovadoras»
Para atingirmos as metas que nos são impostas, «temos de descarbonizar o parque habitacional e mudar a forma como construímos», adotando uma «construção muito mais eficiente», sublinha o CEO da Saint-Gobain Portugal. José Martos adianta que a estratégia da Saint-Gobain Portugal tem sido «integrar as diversas soluções que a empresa tem para que o promotor imobiliário tenha uma solução completa para implementação no seu edifício. Estamos todos a trabalhar na mesma direção».
Na domínio da Reynaers Aluminium Portugal, Ricardo Vieira especifica que «faz parte do nosso ADN comercializar produtos inovadores. Não somos industriais de todo, desenvolvemos soluções e depois comercializamos essas soluções. Os nossos produtos são apenas 20% daquilo que somos».
Neste momento, a digitalização «é o nosso foco neste momento», uma vez que queremos ser uma empresa que contribui para a solução global: os nossos produtos estão sempre em evolução, queremos dar soluções ao mercado que vão de encontro ao que o mercado pretende», enfatiza Ricardo Vieira.
No que concerne ao preço de ser verde, o responsável admite que «o desafio está em explicar o que está por detrás do preço. Todas as empresas e produtores de materiais têm um papel muito importante de clarificar o mercado do que está por detrás do preço».
Na perceção da Reynaers Aluminium Portugal, «quando conseguimos fazer isso, o cliente acaba por perceber. Temos de fugir do tema de comparar preços. Não funciona, temos de perceber o que está por trás». A indústria portuguesa tem de «caminhar a passos largos para a industrialização», frisa o responsável, acrescentando que já se começam «a ver bons exemplos disso».
Ricardo Vieira frisa que «o mercado está mais exigente para este tema, quer conhecer mais, e saber como funcionam as coisas» e que os «edifícios que tenham preocupações sustentáveis vão ser muito mais valorizados e ativos muito mais valiosos».
Para Ana Graça Goite temos de apostar cada vez mais na transição para a construção sustentável. Cada vez mais os donos de obra «são exigentes nesses critérios», aponta Paulo Ferreira. Já José Martos explica que «neste momento, as regulações europeias vão incentivar a sustentabilidade. No entanto, no futuro, vão forçar a sustentabilidade e a eficiência energética dos edifícios».