O contributo da digitalização para a construção do futuro, e o processo dos custos de construção, foram os dois pontos a explorar na segunda sessão do último dia da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa, na passada sexta-feira.
João Bernardino, Lead Project Engineer da A400, frisou que «a digitalização tem vindo com o objetivo de explorar novas e mais complexas geometrias arquitetónicas e industriais», pois promove «novos métodos construtivos, cada vez mais sustentáveis, possibilitando um total controlo e monitorização à distância ou de forma autónoma no sentido de otimizar os sistemas e recursos. Também é responsável pela melhoria na gestão e organização de toda a informação relativa ao projeto, construção e exploração dos edifícios».
Vasco Peixoto de Freitas, Professor da FEUP, tendo como base que «o importante na construção é termos um custo global em matéria bruta de construção em m²», apresentou à audiência o novo Sistema de Informação de Custos de Construção – SICC, sistema desenvolvido pela Confidencial Imobiliário com a colaboração do Professor Vasco Peixoto de Freitas, notabilizando o facto de ser um «sistema de informação de custos de construção predominantemente para edifícios de habitação para promotores, avaliadores, entidades bancárias e projetistas».
Sendo um projeto que consegue compilar informação e facultá-la, «promotores, projetistas e quem trabalha na construção pode comparar o que está a produzir com o preço no mercado», Ricardo Guimarães, Diretor da CI, realçou que foi um «trabalho com base técnica muito grande» e que a Confidencial Imobiliário «projetava lançar um sistema de informação que viabilizasse os custos de construção com base em orçamentos elaborados». Salientando que «o sentido será que o mercado seja convidado a usar este instrumento», já contam com a «colaboração de todos os principais bancos existentes em Portugal».
Tendo como base os dados estatísticos apresentados por Ricardo Guimarães de que «os custos de construção, em 2021, segundo localização da obra, têm um custo superior a 1500 euros por m² e, o restante do país, de 1067 euros por m²», Manuel Brites, Owner da ECOCIAF, ressaltou que «os custos de construção é um processo que tem vindo a ocorrer muito fortemente nos últimos 6 meses. Têm ocorrido grades variações de preços, em particular nos preços das matérias-primas e da mão de obra. Estamos a lidar com uma dificuldade grande que não conhecíamos».
Joaquim Lico, CEO da Vogue Homes, sublinhou que «o mercado funciona em função da procura, que é uma curva forte hoje» focalizando que «o setor voltado para a classe média não reage tão bem ao aumento do preço. Vimos que, pela procura, há um incremento do preço de saída dos imóveis, contudo, nos mercados dirigidos à classe média, com o aumento da taxa de juros que se irá verificar, o seu orçamento vai encurtar mais». Já o «mercado de gama alta tem mais capacidade e elasticidade de absorver. Neste mercado não se irá notar um abrandamento tão grande da oferta e da procura, diferentemente dos mercados menos ativos».
Enquanto moderador do debate, Ricardo Guimarães, alude à oferta de crédito, que se tem dirigido às classes médias, sendo que, para Miguel Oliveira, representante da Associação Portuguesa de Bancos, «há uma prudência muito maior na cedência do crédito, existe muito mais rigor do que havia em anos anteriores». Referindo-se ao mercado imobiliário como um «mercado de baixo risco», reforçou que «para as famílias de classe média e classe média baixa, o papel do Estado, vai ser de um contributo grande. Há um jogo de equilíbrio, temos uma subida de taxas de juro, subida dos preços de construção, subida da inflação. Temos de repensar a nossa forma de agir, o nosso quadro mental vai ter de mudar». Destacou ainda o SICC como «um instrumento referencial que há muito tempo que gostávamos de ter».