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BIM desafia cultura do setor, exige resiliência, mas “traz vantagens claras”



                      BIM desafia cultura do setor, exige resiliência, mas “traz vantagens claras”
Sessão “A revolução em curso – Os novos sistemas construtivos e o BIM”.

A primeira sessão da Semana da Reabilitação Urbana do Porto centrou-se na transformação em curso nos métodos construtivos. Sob o tema “A revolução em curso – Os novos sistemas construtivos e o BIM”, o painel analisou como a industrialização, os novos materiais e o Building Information Modelling (BIM) estão a redefinir a forma de construir e reabilitar, abrindo caminho para processos mais rápidos, eficientes e sustentáveis, essenciais para responder à crise no acesso à habitação.

Paulo Portugal, diretor técnico da Mapei Portugal, e Gonçalo Martins, administrador da Perfisa, abordaram o potencial do Light Steel Framing (LSF) como solução construtiva mais sustentável, rápida, confortável e segura. Foram apresentados vários exemplos de aplicação do LSF, desde habitação unifamiliar a obras de reabilitação e ampliações, bem como intervenções em edifícios de elevada complexidade. Apresentaram ainda o sistema Skinium, que resulta da cooperação de quatro marcas da indústria portuguesa: Mapei, Perfisa, Amorim Cork Solution e Gyptec. A nova solução de fachada procura responder a exigências críticas de conforto térmico e acústico, resistência aos elementos, sustentabilidade e rapidez de execução.

Na sua apresentação, António Monteiro, managing partner da A400, defendeu que o setor vive “a sua própria revolução industrial”, impulsionada por tecnologias digitais, automação, parametrização e metodologias BIM. O responsável apontou o BIM como o elemento central desta transformação, permitindo coordenação entre disciplinas, deteção de incoerências, automatização de tarefas e tomada de decisões baseada em dados. Apresentou, também, ferramentas desenvolvidas pela A400, como o Zenerate, que gera soluções construtivas otimizadas de acordo com regulamentação e eficiência económica e energética, e aplicações de IA aplicadas ao Revit, como o Revisor de Projeto Automático.

Mesa-redonda de debate

O debate, moderado por Ávila e Sousa, Diretor Técnico do Grupo Preceram, ganhou profundidade com Renato França, engenheiro civil da Civilria, que começou por sublinhar que o BIM “é essencialmente fluxo de informação”, mas enfrenta o desafio de uma cadeia de valor “muito fragmentada”, onde donos de obra, arquitetos, projetistas e empreiteiros “nem sempre comunicam na mesma linguagem, muitas vezes assistimos a cada um a trabalhar de forma isolada”. Considerou ainda crucial “normalizar processos desde as universidades e depois crescer para o mercado”, uma vez que ainda há quem veja o BIM apenas como uma ferramenta “para fazer projetos 3D mais bonitos”, e alertou que a adoção tecnológica só será viável para pequenas empresas “se houver previsibilidade, escala e retorno”.

Numa perspetiva comparativa, Nuno Fonseca, diretor da Área Norte da SANJOSE Constructora, observou que países onde a falta de mão-de-obra surgiu mais cedo foram obrigados a acelerar a digitalização. Destacou que os mercados da Europa Central estão “muito mais maduros”, mas garantiu que Portugal “está agora a percorrer esse mesmo caminho e a procurar um equilíbrio entre a digitalização que conseguimos trazer aos processos e a remuneração associada a essa competência técnica”, salientando a “elevada competência técnica das nossas universidades” e defendendo investimento contínuo na digitalização por parte das empresas.

António Monteiro, vogal da direção da APPC, apontou que a fragmentação e a dificuldade de comunicação entre agentes “é, acima de tudo, um tema cultural”, reforçado pela distância entre universidades e a sociedade civil. Recordou que o BIM é um “processo exigente e requer resiliência, mas traz vantagens claras” para quem quer estar na vanguarda. Assinalou também que o custo da transição pode ser mais complexo para estruturas pequenas e projetos de menor escala, explicando o papel da APPC enquanto fórum onde projetistas defendem o seu posicionamento na cadeia de valor da construção e “propõem ao Governo sugestões de aperfeiçoamento de ferramentas e processos”.

Questionado sobre o impacto dos novos sistemas no preço da construção, Gonçalo Martins, administrador da Perfisa, respondeu que “sim, deverá influenciar”, embora não de forma imediata ou linear. A lógica da industrialização “traz maior precisão e controlo, mas também alguma complexidade e custos que têm de ser pagos”, explicou. Esclareceu ainda que, na construção tradicional, “cerca de 60% do custo é mão-de-obra e 40% materiais”, proporção que se inverte nos sistemas pré-fabricados, “onde 60% pode estar na engenharia e no material, e apenas 40% na mão de obra, porque o prazo é muito mais curto”. O responsável sublinhou que, no metro quadrado construído “os valores podem ser semelhantes”, mas os sistemas industrializados “oferecem melhor desempenho térmico, menor consumo energético e maior durabilidade”. Defendeu ainda que “a única forma de reduzir custos é aumentar a escala” e avaliando o edifício ao longo de todo o ciclo de vida, onde as metodologias mais inovadoras “tendem a ser significativamente mais económicas”.

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