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Valorizar a reabilitação hídrica de edifícios

Valorizar a reabilitação hídrica de edifícios
Filipa Newton
Coordenadora da Área de Novos Sistemas da ADENE

Nos últimos três meses desse ano, a precipitação acima do normal provocou cheias e inundações graves. Dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, indicam que num só dia, no Porto, choveu o correspondente a meio mês de outubro. Na Guarda, em 2 dias, a precipitação duplicou a média de dezembro.

Na verdade, e apesar da escassez de água em algumas regiões, temos edifícios que poderiam consumir menos 30 a 50% de água e o correspondente de energia para aquecimento da água (que representa 1/4 do consumo de energia nos edifícios). A este potencial de eficiência corresponde uma poupança de água e energia final para as famílias equivalente a 50% da fatura da água. Os números são impressionantes: só no setor doméstico a poupança seria de cerca de 800 milhões de euros por ano. Mais importante, esta poupança aumentaria a resiliência a períodos de seca.

Faz sentido, por isso, o compromisso crescente na mitigação e, também, na adaptação às alterações climáticas de cidades como o Porto, distinguida nos últimos dias, pela organização internacional Carbon Disclosure Project (CDP), como cidade “Classe A” no combate às alterações climáticas. Para termos cidades mais sustentáveis e resilientes temos que apostar tanto na reabilitação energética, como na reabilitação hídrica, por via de novas soluções construtivas nos edifícios, como a captação de águas pluviais – que contribui para o controlo de cheias – a utilização de equipamentos eficientes e a reutilização da água – que diminuem as necessidades de consumo de água e energia, hoje agravadas pela ineficiência.

Para responder a estes novos desafios, a ADENE tem hoje ao dispor de todos o AQUA+ “Água na medida certa” (www.aquamais.pt), que permite projetar, conhecer e classificar o uso eficiente da água nos edifícios tendo por base o desempenho das infraestruturas e equipamentos que usam a água nos imóveis, valorizando a existência de sistemas de aproveitamento de águas pluviais e águas cinzentas.

Com base nesta avaliação, realizada em imóveis em projeto, reabilitação ou em uso, o AQUA+ comunica esse desempenho segundo uma escala universal bem conhecida de projetistas, promotores, investidores e consumidores, de F (menos eficiente) a A+ (mais eficiente). Além da classificação, indica oportunidades de melhoria, conduzindo à realização de investimentos económica e ambientalmente mais racionais e valorizando e distinguindo os imóveis mais eficientes no uso da água.

O AQUA+ está já disponível e a ser utilizado para edifícios residenciais. Em breve, estará disponível para hotéis e edifícios de comércio e serviços.

Mas, para a reabilitação hídrica de edifícios, não basta o AQUA+, é fundamental a existência de profissionais habilitados e reconhecidos para intervenção nesta área. Para isso existe a Academia ADENE (www.academia.adene.pt), que forma e reconhece Consultores e Auditores AQUA+. Há ainda outras iniciativas, em que se destaca o projeto europeu WATTer Skills (www.watterskills.eu), onde estão a ser criadas oportunidades, competências e novas especializações, como Técnicos de Eficiência Hídrica e Especialistas de Eficiência Hídrica em edifícios. Estes dois temas – AQUA+ e novas profissões – estarão em debate no Webinar “Eficiência hídrica na reabilitação urbana: novas oportunidades da classificação hídrica à qualificação profissional”, no dia 24/11 às 14h30, na Semana da Reabilitação Urbana do Porto.

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