opinião

O Turismo e a Reabilitação Urbana

O Turismo e a Reabilitação Urbana
Eduardo Abreu
Partner da Neoturis

Quer ao nível do desenvolvimento do espaço público – onde os turistas usufruem da cidade e passam grande parte do seu tempo de visita – quer ao nível do edificado onde se desenvolvem unidades de alojamento e visitor attractions que constituem o cerne da oferta turística de uma cidade (museus, centros de congressos, monumentos…).

Ao nível do espaço público, Lisboa tem evoluído na direção certa. Quem não se lembra do Chiado pré-incêndio ou do parque de estacionamento do Terreiro do Paço. Importa, numa fase de procura crescente da cidade ter em atenção temas como o estacionamento/paragens de autocarros, locais onde turistas e residentes na cidade possam passar tempo ao ar livre com infraestruturas e manutenção cuidadas ou circuitos sinalizados para controlo de fluxos.

Ao nível do edificado, importa, num processo de reabilitação urbana, tentar manter o espírito do local sem deixar de ter em consideração as necessidades da vida moderna e o perfil de utilização futuro dos edifícios. Não foram pensados para hotéis ou outras tipologias de alojamento, pelo que terão obrigatoriamente que – pelo menos internamente – sofrer modificações estruturais. E é aqui que por vezes o mercado e o licenciamento entram em rutura. Os edifícios dos centros históricos não tinham os elevadores que hoje são necessários, áreas como varandas ou terraços não eram prioritárias, a resposta a pessoas com mobilidade condicionada não estava prevista e muito menos as divisões interiores correspondem às mudanças de uso e às necessidades atuais. Impor que sejam os utilizadores a voltarem às necessidades de séculos atrás, será como tentar travar um ciclone com a mão

Ou seja, áreas novas integradas no edificado existente, mudanças no traço arquitetónico ou compromissos entre a estética e a operação, terão necessariamente que ser observadas como necessidades e não como caprichos ou procura de maximização de retorno face aos investimentos efetuados. Quanto tempo demoraria em Lisboa aprovar uma intervenção como a do Louvre, em Paris, ou do núcleo do Rijkmuseum | | Van Gogh Museum | em Amesterdão? ou o London Eye? Seria o hotel W, em Barcelona, licenciável em Lisboa?

Tendo naturalmente que existir um escrutínio por parte das autoridades municipais – e todos os responsáveis pela gestão do território – a verdade é que a velocidade que a procura – privada numa primeira fase e pública numa segunda – será sempre mais rápida que as políticas associadas ao desenvolvimento do território. Mas é obrigação de todos que esse gap temporal seja cada vez mais curto.

Não nos devemos também esquecer que a reabilitação urbana de Lisboa terá de responder às necessidades dos seus turistas, mas, principalmente deve responder às dos seus residentes e aos que nela trabalham diariamente. E acreditamos que, para a maioria da população de Lisboa, o fenómeno turístico tem acrescentado valências e qualidade de vida à cidade.

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