opinião

A reabilitação urbana, hoje

A reabilitação urbana, hoje
José Manuel Pedreirinho
Presidente da Ordem dos Arquitectos

De facto, abordar o tema da reabilitação e da recuperação do edificado em 2020, e em pleno surto da pandemia, tem um âmbito que vai muito para além de qualquer reflexão sobre o papel ou as estratégias do fazer arquitectura.

São, de facto, muitas as razões que recomendam uma renovada atenção a estes problemas. É hoje claro que não é possível prosseguir com o atual processo linear de construção, em que os materiais são sucessivamente extraídos, usados e deitados fora, cuja origem é a mesma que durante muitos anos levou a que se defendesse a sucessiva destruição e substituição dos edifícios existentes por obras novas.

Hoje em dia sabemos claramente que uma atividade como a da construção civil, consome 36% da energia e produz quase 40% das emissões de carbono, o que é insustentável perante as necessidades de proteção ambiental com que estamos confrontados. Sobretudo porque na União Europeia esta actividade é ainda responsável por cerca de 50% da extração dos materiais e por quase 1/3 de todo o lixo produzido.

Percebe-se assim bem da necessidade de passarmos destes processos de uma economia linear para uma economia circular, onde a reabilitação do construído e das nossas cidades assuma um papel preponderante. Só com uma intensa política de recuperação de muitos dos edifícios existentes, mas alargada também à regeneração urbana será possível reduzir significativamente valores que são manifestamente demasiado elevados.  

Uma regeneração urbana e uma recuperação que permitam optimizar estruturas e espaços existentes, sem quaisquer falsos fachadismos, antes promovendo soluções que respondam às necessidades de adaptação do edificado, e permitam não só a sua futura reutilização como a de muitas das infraestruturas existentes.

Uma política que deverá apoiar-se numa efetiva melhoria da qualidade dos projetos, escolha dos materiais e das técnicas construtivas, numa visão holística, capaz de englobar todas as atividades humanas que transformam o ambiente construído.

Atividades onde o papel dos arquitetos é fundamental para a qualificação do construído. Seja na escolha das soluções técnicas mais adequadas, seja pela qualidade da organização dos espaços, ou na não menos importante salvaguarda das memórias de que todos tanto precisamos.

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