O uso da tecnologia BIM – Building Information Model no urbanismo pode ser parte da solução para reduzir os tempos de licenciamento e agilizar os processos nas autarquias, já que parte substancial do projeto pode ser validada automaticamente. É o que propõe a Universidade do Minho com a nova plataforma de BIM LiMA, que desenvolveu em conjunto com parceiros como o ISISE e as câmaras de Gaia e Lisboa.
A LiMA foi apresentada pelo professor da Universidade do Minho, Miguel Azenha, aos promotores e investidores imobiliários na 38th Executive Breakfast Session APPII, que decorreu a 13 de janeiro no Tivoli Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Segundo o responsável, o BIM é «a capacidade de criar representações virtuais, uma metodologia de partilha de informação e comunicação, ligada a todos os intervenientes da cadeia de valor e a todas as fases do processo, baseada em software. É uma metodologia que nos permite um controlo muito mais apertado do que estamos a fazer».
A plataforma permite que esta tecnologia possa ser usada de forma sistemática pelas autarquias. A LiMA permite «a explanação dos conceitos fundamentais para apoio a iniciativas de implementação de BIM numa autarquia», e o alinhamento com «as iniciativas internacionais ISO/CEN e nacionais IPQ». O software em open source vai permitir «fomentar as estratégias de harmonização a nível nacional», além de permitir um «cadastro digital da cidade». Poderá ser usada no licenciamento de construção e utilização e fiscalização dos projetos, na intervenção direta ou consultiva no projeto ou obra e na gestão e manutenção dos edifícios e do cadastro do existente.
Segundo o responsável, a plataforma ficará disponível de forma gratuita com código aberto, e pode ser customizada. Consulte aqui a apresentação da plataforma da Universidade do Minho.
Maior rapidez dos processos de licenciamento
Miguel Azenha destaca, enquanto principais vantagens desta nova tecnologia, a maior rapidez dos processos de licenciamento, com o uso mais eficiente dos recursos; uma melhor gestão das expetativas, já que «reduz a subjetividade do projeto e torna-o mais transparente»; a cobrança justa de impostos ou a atribuição de um selo de mérito BIM, atribuído ao requerente. E destaca que existem já várias iniciativas a nível europeu para viabilizar o licenciamento digital.
A Universidade do Minho fez uma análise exaustiva dos processos e requisitos camarários em conjunto com as autarquias de Vila Nova de Gaia e Lisboa para perceber qual a capacidade de digitalização dos requisitos, concluindo que «72% das cláusulas são digitalizáveis e podem ser feitas de forma automática». Confirma-se assim o potencial de utilização desta plataforma nos processos urbanísticos.
Câmara de Lisboa pode vir a usar a plataforma dentro de 2 anos
Ainda há um longo caminho a percorrer, mas Miguel Azenha considera que «em menos de um ano» pode vir a ser lançado um primeiro projeto piloto na Câmara Municipal de Lisboa usando a plataforma, e que um primeiro projeto real pode vir a usar a LiMA «dentro de pelo menos dois anos, a não ser que haja investimento adicional» que acelere o processo.
Até lá, entre os principais desafios estão o facto de não existir ainda um cadastro digital completo dos imóveis, apesar de isso não impedir o uso da plataforma. Além disso, «precisamos de pontos capacitadores, de normalização da interoperabilidade», aponta Miguel Azenha. Pela positiva, ainda do lado das autarquias, «a curva de aprendizagem dos técnicos é baixíssima, porque existirão várias verificações automáticas».
António Gil Machado, diretor da VI, que participou também neste encontro, partilhou o sentimento de que «as câmaras estão interessadas assim como esta sala», e destaca o desafio da formação de mais engenheiros informáticos: «é uma camada de investimento que a plataforma precisa para que passe da investigação para o terreno». E propõe que a Academia APPII aposte neste tema nos próximos tempos, em estreita colaboração com a Universidade do Minho: «tornar a investigação aplicada ao mundo das empresas é um passo essencial que depende desta sala».
Por outro lado, é de salientar o aumento dos custos para o promotor imobiliário que, segundo o responsável, podem subir, em números redondos, «20% a 30% na fase de projeto». No entanto, defende que «a adoção do BIM na cadeia de valor da construção permite evitar e prever uma série de problemas». E, «se um investidor sabe o valor que vai conseguir, isto fará com que quem faz os projetos seja recrescido por fazer esse projeto».
Novo índice de custos de construção da Ci poderá ligar-se à plataforma
A Confidencial Imobiliário tem vindo a trabalhar num novo sistema de informação de custos de construção, o Sistema de Indicadores de Custos de Construção, que visa «apurar estatísticas de custos de construção com base na amostragem de orçamentos elaborados para efeitos de financiamento à promoção imobiliária», explicou António Gil Machado, que apresentou esta iniciativa durante a sessão.
Este índice poderá ser «uma componente que se soma ao projeto de BIM no licenciamento». Até agora, o trabalho feito em conjunto com 7 bancos e 14 empresas avaliadoras permitiu criar uma base de dados com 300 orçamentos de projetos relativos a 2021. Até junho de 2022 serão apresentadas as estatísticas produzidas a partir dos relatórios submetidos.
Este sistema será «alimentado com o apoio da APPII e de todos os seus associados e em conjunto com os bancos, a partir do sicc.confidencialimobiliario.com, onde pode ser submetida a informação». A ideia é que «um dia, carregando num botão na plataforma, surja um relatório do SICC pré-preenchido», conclui.