Estudos

80% da população tem falta de conforto térmico nas casas



                      80% da população tem falta de conforto térmico nas casas

O período que atravessámos do dia 1 a 17 de Julho foi o mais quente dos últimos 22 anos. Este fenómeno vai tornar-se cada vez mais intenso, segundo um estudo levado a cabo pelo Público acerca dos efeitos das alterações climáticas nas cidades: 80% da população portuguesa tem falta de conforto térmico nas suas casas.

O estudo aponta que este fenómeno vai tornar-se mais intenso, mais frequente e mais longo, especialmente nas áreas urbanas – «os estudos apontam para cerca de dois a três graus, em média, em que a temperatura é mais elevada no centro do que fora da cidade», refere o estudo.

Lisboa

Entre mais de 600 cidades europeias, Lisboa é a sétima mais exposta a estas ondas de calor, mesmo tendo uma extensa frente de rio e estando muito próxima do oceano. António Lopes, um dos investigadores citados no estudo, participou no Plano de Acção Climática do município, que integra os resultados do projecto Ondas de Calor, onde estão aprofundados os cenários atuais e futuros deste fenómeno na capital.

No Plano Metropolitano de Adaptação às Alterações Climáticas, no qual António Lopes também participou, antecipa-se que a zona oriental da cidade seja a mais afectada pela chegada do ar quente e seco que vem do interior da península ou do Norte de África, «vai ser a zona oriental porque está mais perto, apesar de termos o efeito do Tejo. Mesmo assim, podemos continuar a beneficiar das brisas. É preciso é não as bloquearmos quando precisamos delas», refere o investigador.

Assim sendo, Ricardo Deus, outro dos investigadores citados no estudo, sublinha a necessidade de termos que nos adaptar, «não há outra forma. Temos que nos adaptar, arranjar mecanismos para viver num clima diferente. As cidades são um sítio onde, com um clima mais quente e mais seco, se vai sofrer mais impactos». A cidade de Lisboa, segundo a investigadora Ana Oliveira, já está a «reconhecer as fragilidades da maneira como ocupar o território e a produzir cenários», sendo que a construção terá de se adaptar para consumir menos energia.

Eficiência Energética

Portugal é o segundo país da União Europeia onde mais pessoas afirmam estar desconfortavelmente quentes nas suas habitações no Verão, de acordo com os dados do Eurostat.

De acordo com João Pedro Gouveia, investigador em alterações climáticas citado no estudo do Público, 80% da população portuguesa tem falta de conforto térmico nas suas casas, «é uma questão no Inverno e no Verão. Não é uma questão só ambiental ou energética, é uma questão social e económica, porque as pessoas passam frio, passam calor em casa e, muitas vezes, não estão em condições de trabalhar (...) é sempre importante fazer a ligação à parte dos edifícios, dos equipamentos e de outras dimensões socioeconómicas».

O regulamento que define requisitos de conforto térmico aos novos projectos de edifício surgiu somente em 1990, «até lá, foi-se construindo barato, rápido, com zero preocupações em termos de conforto térmico e da performance energética», realça João Pedro Gouveia.

Preparar o futuro

A capital portuguesa está a crescer para norte: corre-se assim o risco de «novos prédios se tornarem um obstáculo que as brisas e os ventos não conseguem transpor, formando novas ilhas de calor, mais quentes, além de não conseguirem cumprir a sua missão de limpar o ar que respiramos», declara João Pedro Gouveia, acrescentando que as novas construções estão a ser feitas «um bocadinho nos mínimos» e os apoios à adaptação das casas são «insuficientes».

De acordo com o investigador António Lopes, as novas construções não podem obstruir os corredores de ventilação da cidade, onde o vento entra mais facilmente, sendo essenciais para remover a poluição existente: «as cidades, hoje, são as maiores emissoras de carbono e emitem mais de 70% do carbono que agrava o efeito antropogénico das alterações climáticas. Mas as cidades também são áreas de grande imaginação, de grande revolução», refere o investigador.

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