Num mundo em que as alterações climáticas já são uma realidade, e depois de muitos anos de inércia, o setor da construção e do imobiliário apresenta-se «forte, robusto e inovador», e quer fazer parte da mudança. quem o diz é Nelson Lage, presidente da ADENE.
O responsável falava durante a Semana da Reabilitação Urbana do Porto, na conferência “Building Passports: uma nova aposta para acelerar a renovação do edificado”, recordando que este setor foi, durante muito tempo, «um gigante adormecido, permaneceu estático, resistindo à inovação, à necessidade de resposta às alterações climáticas. Mas elas vão fazer parte das nossas vidas, e obrigar ao surgimento de uma nova sociedade, mais exigente a vários níveis. E o setor está agora a responder de forma muito positiva a esta revolução silenciosa. Nunca a construção teve um papel tão determinante na criação de um futuro mais sustentável. Está a abraçar novas ferramentas, novas abordagens, que vieram revolucionar abordagens, planeamento. É a construção 4.0».
Esta construção 4.0 «responde à necessidade de maior produtividade e de se construir de forma mais sustentável. Ao apostar na renovação do parque edificado europeu respondemos ao desafio de reduzir as emissões na Europa».
Para Nelson Lage, a Energy Performance of Buildings Directive (EPBD) «é um convite à ação, que deve envolver todos os setores da sociedade». O novo passaporte de produto que introduz «é um verdadeiro mapa que orienta os proprietários, vai ao encontro dos novos desafios da construção, incentiva a inovação tecnológica, os novos materiais, a adoção de novas soluções. Todos devem unir-se neste esforço coletivo. Nós continuamos a desempenhar o nosso papel, garantindo que a transição para um setor mais sustentável».
O novo passaporte
Introduzindo o passaporte de renovação dos edifícios como ferramenta de apoio à reabilitação urbana, João Cleto, Técnico Especialista na Direção Estratégica, Políticas e Projetos da ADENE, explicou que a EPBD traz guias para a renovação, descarbonização, instrumentos, modernização e integração de sistemas. Uma das novidades será para os certificados energéticos, nomeadamente a escala harmonizada de A a G, com classe A+ voluntária.
A ADENE está a participar e a dinamizar vários projetos neste sentido, nomeadamente nos passaportes de renovação. «É um plano integrado de longo prazo que permite orientar sobre quais os componentes a renovar, quando, como e a que custo e com que poupanças, um roteiro adaptado para a renovação profunda de um determinado edifício com um número de etapas sequenciais que contemplam medidas de melhoria».
Este passaporte será voluntário por defeito, a não ser que o Estado-membro decida em contrário. Será emitido por um perito qualificado, e até 2026 todos os países têm de ter um regime pronto. Será emitido em digital, adequado a impressão.
João Cleto acredita que «pode ter um papel preponderante no processo de transposição da EPBD[até 2026] ou na atualização do sistema de certificação energética, melhoria do conforto e redução da pobreza energética, além de uma ferramenta para otimizar os programas de financiamento».
Por seu turno, Pedro Santos, diretor Técnico da Reynaers Aluminium, fez uma apresentação sobre a contribuição da caixilharia para um edificado mais digitalizado, e sobre o novo passaporte digital de produto da marca, o DigiTrace, que será um passo dado no cumprimento da nova diretiva. «É como se fosse uma matrícula, tem todas as informações sobre o produto de forma rápida», garantindo toda a informação para que o produto possa ser usado e mantido por muitos anos.
Para a Reynaers Aluminium, que desenvolve diferentes tipos de sistemas para a envolvente transparente dos edifícios, «a sustentabilidade vem de longa data, e desde a assinatura do Acordo de Paris sabemos que não podemos esperar por 2049 para atingir os objetivos. Temos de antecipar as atividades e o conjunto de dados que têm de ser produzidos e analisados para percebermos o que é necessário fazer» em todas as fases do processo.
Alguns passos já foram dados, mas ainda há muito para fazer
Na mesa-redonda de debate, moderada por Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, Nuno Fideles, Head of Sustainability da Savills, destacou as melhorias do setor no que diz respeito à sustentabilidade. «Já estivemos pior, e estamos a recuperar face a outros mercados. Temos dado um grande salto na certificação de edifícios». Considera que deveria existir uma “via verde” para o licenciamento de edifícios reabilitados que cumpram com certos requisitos e obrigações de sustentabilidade.
Para Filipe Sambento, diretor comercial da Saint-Gobain Portugal, «o caminho parece longo, mas temos de acelerar. Já foram dados alguns passos, mas parece-me que há muito por fazer, e é importante consciencializar as várias partes» do processo. Acredita que «o grande mobilizador é o próprio mercado. Somos bons, e temos capacidade de adaptação».
Tomás Baldaque, diretor de Marketing e Vendas B2B da EDP Comercial, destacou o que se pode fazer em prol da sustentabilidade ao nível do consumo residencial. «temos vários serviços que podem ajudar os clientes a fazer a transição» para um futuro mais sustentável. Uma coisa é certa: «isto é como um comboio em andamento, e temos de o apanhar. Sabemos que a mudança é brutal quando há incentivos».
José Mota Freitas, diretor comercial da Direção de Empresas da Caixa Geral de Depósitos, destacou que a motivação para a sustentabilidade partia, até há pouco tempo, do interesse próprio, mas agora a banca tem metas específicas para cumprir. «Os nossos clientes vão ter de ser mais eficientes e de reportar informação de emissões, por exemplo. E nós teremos de gerir a nossa carteira entre os clientes mais e menos eficiente». Atualmente, «os projetos mais eficientes podem ter financiamento mais barato, seremos incentivados a penalizar projetos que não são tão eficientes».