O design e a arquitetura são, muitas vezes, entendidos como um luxo, mas podem ser “soluções para vários problemas. E o Mundo precisa de isso”. Quem o defende é o arquiteto brasileiro Guto Requena, fundador do gabinete Guto Requena e orador convidado da Convenção APEMIP | IMOCIONATE, que teve lugar na última terça-feira, em Lisboa, onde refletiu sobre a nova arquitetura nas cidades.
Na sua apresentação, recordou que “somos os primeiros a assistir a esta transição do analógico para o digital, e já somos praticamente ciborgues, temos próteses que permitem uma extensão do nosso corpo, levar-nos ao espaço ou ao fundo do mar. E agora a Inteligência Artificial, algo inédito na história. Vamos conviver com robots de todas as escalas e todos os tipos, e nunca mais vamos tomar decisões sem a IA”. Apela a que que esta tecnologia seja sempre aplicada no desafio de ver o Mundo por outras perspetivas: “o fundamento da inovação vem da diversidade”.

Neste contexto de mudança e inovação, a arquitetura e tudo o que envolve os edifícios podem ter um papel fundamental. “A maneira como nos comportamos dentro de um edifício é influenciada pela arquitetura, a promoção imobiliária tem uma grande responsabilidade nisto, e não podemos esperar apenas pelo poder público para mudar”.
Até porque “assistimos hoje a uma crise nas cidades. Precisamos de menos carros, de mais espaço pedonal e mais árvores”, nomeadamente Lisboa, para onde o arquiteto se mudou recentemente."Estamos tanto tempo online que as nossas cidades devem, cada vez mais, celebrar os momentos em que estamos juntos. A arquitetura pode transmitir e refletir as emoções das pessoas”. Em relação à natureza em particular, refere que “isto não é nada de novo, a natureza já fazia parte dos povos mais ancestrais”.

Na sua apresentação, Guto Requena apresentou vários projetos do seu ateliê no Brasil ou o laboratório de estudos “Juntx: empatia, design e tecnologia”, fortemente pautados pela sustentabilidade e que tiveram como prioridades “integrar a natureza e as novas formas de trabalhar, e descarbonizar as construções usando materiais, como a madeira”, como o caso do seu próprio apartamento. Este projeto assume-se como “um oásis no meio do betão de São Paulo”, apostando na biofilia com irrigação automática, iluminação natural, numa habitação totalmente conectada tecnologicamente por 2,5 quilómetros de cabos.
Na sua opinião, a inovação “não se faz num mês, mas sim com tempo, qualidade e diversidade. E tem como grande vantagem “começar por projetos de pequena escala”. O imobiliário não é exceção, e convida a que os atores do mercado “pensem e procurem quem são os ‘doidos’ da impressão 3D, o biólogo da vossa terra, os engenheiros, laboratórios de pesquisa ou universidades que possam colaborar num projeto de inovação convosco. Isto é ativar a escala da inovação”.
Guto Requena acredita que bom design e tecnologia “mexem com as pessoas”, e a arquitetura tem de tirar partido disso. “A humanidade é só um sopro na história do planeta. Se houver alguma esperança de prolongar a nossa espécie, podemos aliar-nos às novas tecnologias e ao afeto, e talvez isso consiga segurar tudo o resto. Acreditemos que a união entre afeto e tecnologia podem ser a solução”.
