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ESG é "cada vez mais matéria obrigatória"



                      ESG é "cada vez mais matéria obrigatória"

O Almoço-conferência da Vida Imobiliária decorreu esta terça-feira com o mote "EU Taxonomy - Consequências para o mercado imobiliário", onde os especialistas foram convidados a debater o tema da nova taxonomia europeia e das novas exigências de sustentabilidade no imobiliário.

Por ser um tema «pouco discutido em Portugal», Hugo Santos Ferreira, presidente da APPII, realça a importância desta conferência, pois «temos de começar a falar sobre taxonomia e como de facto vai ter consequências e impacto no mercado imobiliário».

Numa breve e elucidativa apresentação, Richard Betts, Real Asset Media, diz que a pergunta chave recai sobre «o porquê de este tópico ser importante para o setor imobiliário?» E a resposta é «relativamente simples»: os edifícios são responsáveis por 40% do consumo de energia e 36% das emissões de gases com efeito de estufa na Europa, indica.

Richard Betts refere que «no decorrer dos próximos anos, as regulações vão ser cada vez mais estritas, até atingirmos o ponto de deixarmos de “falar sobre a sustentabilidade” para de facto pormos em prática e em ação», sendo a descarbonização «a única opção para limitar o aumento da temperatura média do planeta e evitar alterações climáticas». O especialista alega ainda que os «investimentos devem ser realizados de forma responsável. Esta transição tem de ser feita conscientemente. Enquanto representantes do setor imobiliário, é tempo de trabalharmos juntos».

A sustentabilidade "mais como um investimento e menos como um custo”

Na segunda intervenção da manhã, Ângela Monteiro, diretora de Finanças Sustentáveis do Millenium BCP, atentou para o facto de a sustentabilidade trazer oportunidades para «quem a vê mais como um investimento e menos como um custo». Para a representante do Millenium, «interessa em cada uma das dimensões do ESG, perceber que o que era antes opcional e sobretudo uma matéria de consciência, hoje é cada vez mais matéria obrigatória: tem requisitos regulatórios e legislativos».

Ângela Monteiro considera que «os esforços transetoriais ficam muito aquém do que é necessário se não envolverem o imobiliário. O impacto das emissões dos setores, diretos ou indiretos, são muito relevantes». De acordo com dados de 2019, 38% do total de emissões de gases com efeito estufa, como o dióxido carbono e o metano, resultam direta ou indiretamente dos edifícios, cita a responsável, acrescentando que os edifícios são também responsáveis por cerca de 35% de todos os consumos globais de energia, com a maior porção para os edifícios residenciais.

Carbono incorporado e carbono operacional

A diretora de Finanças Sustentáveis do Millenium BCP, frisa a importância de distinguir entre carbono incorporado e carbono operacional: «o carbono incorporado é aquele que foi gerado na produção dos materiais de construção e na construção propriamente dita; o carbono operacional é o que resulta da utilização dos edifícios. Ambos são muito relevantes: a redução efetiva da pegada carbónica dos edifícios implica necessariamente endereçar ambas as tipologias», elucida.

"As ações de redução do impacto climático e os compromissos de neutralidade carbónica são já e serão cada vez mais relevantes no acesso ao financiamento"

De acordo com as palavras de Ângela Monteiro, estes compromissos são de facto «cada vez mais matéria obrigatória» e serão «cada vez mais relevantes no acesso ao financiamento». A responsável indica que «os bancos estão sujeitos a regulação específica nestes temas e eles próprios assumem compromissos de neutralidade carbónica e exigem integração do ESG nas decisões e condições de financiamento».

Destaca ainda o Plano de Ação para o Financiamento Sustentável da Comissão Europeia, «cuja primeira ação é o estabelecimento de um sistema de classificação para as atividades sustentáveis, e, a taxonomia, é a resposta a esta ação».

Na mesa-redonda de debate, para além de Ângela Monteiro, estiveram também presentes Bernardo Freitas, Head of ESG & Sustainability – Portugal da CBRE, e Gonçalo Reino Pires, Counsel da Uria Menendez Proença de Carvalho Advogados. Bernardo Freitas, enquanto responsável pela área do ESG e sustentabilidade da CBRE, revela que a consultora tem estabelecido «contacto com muitos investidores que têm procurado as certificações de sustentabilidade. Nos últimos dois anos fizemos cerca de 15 a 20 certificações em diversos tipos de ativos: escritórios, retalho, retail parks e centros comerciais».

No que diz respeito ao impacto que a regulação vai causar, Gonçalo Reino Pires, Counsel da Uria Menendez Proença de Carvalho Advogados, considera que «não estamos totalmente cientes do volume de regulamentação, do impacto que vai ter ao nível da estruturação e promoção dos projetos».

Gonçalo Reino Pires menciona ainda a «enorme necessidade de adaptação da legislação, sobretudo a legislação técnica». A título de exemplo: «na reutilização de águas residuais, o sistema é ainda muito incipiente ou até ao nível dos painéis solares. As legislações técnicas vão ter de ser adaptadas para permitirem a aplicação das melhores técnicas que estão identificadas neste tipo de programas, e parece-me que ainda estamos muito longe»

"Hoje, se me dirigir ao Millenium BCP com um projeto de promoção imobiliária que seja certificado, consigo ter uma vantagem de pricing, por exemplo, em termos de taxa de juro, ou ainda é um caminho que se está a fazer?"

Ao ser colocada esta questão, Ângela Monteiro, considera que hoje ainda «é um caminho que se está a fazer e que se vai fazer. Será possivelmente mais pela negativa do que pela positiva, ou seja, a expectativa será cada vez mais que novas construções e grandes remodelações tenham padrões muito elevados – as certificações ajudam nisso – e, quem quiser financiar grandes projetos que não cumpram estes critérios, terá condições mais desvantajosas. Essa é a expetativa».

A diretora de Finanças Sustentáveis do Millenium BCP refere ainda que «quando se faz emissões green bonds ou financiamentos verdes, é iniciativa dos próprios clientes. Neste momento, esta parceria entre bancos e clientes, ainda é muito em função destes interesses do que propriamente uma imposição».

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