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Entrevista a Rosário Rodrigues, partner da Ferreira de Almeida Arquitectos

Entrevista a Rosário Rodrigues, partner da Ferreira de Almeida Arquitectos

De olhos postos no futuro Rosário Rodrigues fala-nos da importância do arquiteto, da reabilitação urbana e da sustentabilidade:

Começamos pelas apresentações e com uma pergunta difícil: para quem não conhece a vossa obra, como definiriam o vosso estilo?

Eu não diria que podemos definir propriamente um estilo. Os projetos resultam de muitos fatores, de muitos condicionalismos e por fim resultam de um estado de espírito no momento do seu processo criativo que é sempre tão diferente que dificilmente se poderia encaixar num estilo. Talvez os outros o consigam fazer, de fora talvez seja mais fácil. Acho que existe sempre a eterna procura pela pureza da simplicidade.

Onde podemos encontrar o atelier e a equipa?

A Ferreira de Almeida Arquitectos está sediada no Porto desde que se fundou, há 35 anos. Desenvolvemos muitos projetos na área do Retail, Hotelaria, Residencial, Serviços, Equipamentos e Urbanismo.

Já fomos uma equipa muito numerosa mas com a evolução das novas tecnologias e o conceito de flexibilização das equipas, hoje somos um grupo de 10 pessoas.

Quais as principais características que marcam as vossas obras?

Sempre que iniciamos um projeto, o sentimento principal que nos move é a vontade de evoluir, de procurar mais, de tentar melhor, de encarar sempre o processo como um desafio novo, e sempre com muito entusiasmo. Se tivermos um cliente que respeite esse trabalho e esse empenho o resultado final da obra vai refletir tudo isso. Acontece muitas vezes felizmente, mas nem sempre.

E, entre os projetos mais emblemáticos do vosso portfólio, quais destacariam?

Bom, nunca é fácil escolher mas começava por destacar uma obra que teve um impacto relevante na altura em que foi realizada, a Torre das Antas, o Mercado do Bom Sucesso pelos prémios que recebeu quer em Portugal quer nos Estados Unidos da Urban Land Institute, o Hotel Moov Évora localizado no centro histórico, as 4 Torres Kianda em Luanda junto à Baía, entre muitas outras.

Cumprido um ano desde a chegada da Covid-19, como têm sentido o impacto da pandemia no mercado da arquitetura? E, especificamente, na prática do vosso atelier?

A Pandemia para além de afetar em tempo real todas as atividades que se viram privadas de funcionar normalmente, veio criar um estado de incerteza que levou a que grande parte dos investidores adiassem os seus planos até terem mais segurança para os retomar.A construção civil não foi uma área que tivesse parado mas teve necessariamente de abrandar, por isso vivemos um ritmo diferente a todos os níveis: decisão, investimento, licenciamentos, construção e claro também na comercialização.

Atualmente, quantos projetos têm em carteira (em que setores e em que localizações)? E quais as perspetivas ao nível de novas encomendas para este ano?

Estamos com cerca de 10 projetos em carteira, nas áreas residenciais, hotelaria, escritórios, grande parte deles no Distrito do Porto e Distrito de Braga, alguns em Lisboa, Luanda e Cali-Colômbia. Temos alguns projetos de dimensão relevante para avançar mas tudo vai depender do comportamento da economia e da normalização do nosso dia a dia.

Olhando para o estado atual do mercado imobiliário e da construção, onde identificam maior potencial de crescimento em Portugal?

Quando conseguirmos regressar à normalidade do mercado Pré-pandemia, creio que as áreas com maior potencial se vão manter as mesmas, a reabilitação urbana, o turismo, a reconversão de edifícios públicos obsoletos, tal como já estava a acontecer.

Nesta fase, o mercado continua muito voltado para a reabilitação e a regeneração urbana. A seu ver, qual é o papel do arquitecto nesse processo que, afinal, é uma prioridade a nível nacional?

O papel do arquitecto é importantíssimo. Não podemos perder a oportunidade de fazer estes processos com qualidade, com planificação e com inovação, porque as próximas gerações irão usufruir do sucesso destas intervenções ou sofrer com as consequências do seus erros. O contributo dos arquitectos é mesmo indispensável.

Outra questão-chave e que é cada vez mais incontornável é a sustentabilidade do edificado, não só do ponto de vista energético, mas também ambiental e social. Como é que a arquitetura deve contribuir para este desígnio?

Quanto à sustentabilidade energética penso que hoje já não está só dependente da consciência de quem projeta. Existe muita legislação que obriga a que as construções sejam pensadas e realizadas com essa preocupação.

A sustentabilidade ambiental depende na pequena escala da consciencialização e dos critérios que todos nós arquitectos utilizamos no nosso trabalho, mas na grande escala depende do planeamento urbanístico e da estratégia nacional onde hoje em dia é felizmente um tema muito vivo e muito presente.

Quanto à sustentabilidade social, ela está intimamente relacionada com a regeneração urbana, com a qualidade de vida da comunidade e dos problemas sociais que a degradação de uma área pode causar.

O contributo da arquitectura é talvez o mais importante neste processo, no processo da criação de novos espaços de qualidade, no processo da criação de uma imagem de cidade com harmonia e equilíbrio, o criar condições para que se desenvolvam todo o tipo de atividades económicas, residenciais e lúdicas.

E, tendo em conta o estado atual do parque edificado nacional, quais devem ser as prioridades para o tornar mais sustentável?

A primeira grande prioridade são os programas de Reabilitação Urbana que têm sido um excelente exemplo de sucesso e acho que têm de continuar a ser apoiados e a abranger todo o país. A outra grande prioridade é a “despenalização fiscal” do imobiliário que tem funcionado como um grande travão no mercado do arrendamento e que não tardará muito vai reduzir a grande parte dos proprietários aos Fundos de Investimento, porque os pequenos investidores não vão querer ser proprietários de imóveis.

Quando prescreve os materiais de construção, que características tem em consideração?

A prescrição dos materiais de construção pode depender de muitos fatores. O fator estético é permanente e transversal a todos os materiais e todas as situações. Mas colocam-se por exemplo questões de resistência, questões de preço, características de localização geográfica da obra, enfim as condicionantes podem ser muitas e variadas. Mas sempre que possível materiais nacionais.

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