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Entrevista a Marta Campos, CEO da Marta Campos Arquitectura



                      Entrevista a Marta Campos, CEO da Marta Campos Arquitectura

Dando lugar às apresentações, pode sugerir uma obra que seja representativa do vosso trabalho?

A Casa das Gelosias é uma obra que representa bem o tipo de trabalho que gostamos de desenvolver no âmbito da reabilitação de edifícios. Localizada em Braga, esta obra foi galardoada com o Prémio Reabilita Braga 2018, na Categoria de Obra de Construção em ARU, sendo por isso motivo de orgulho. O projecto parte do estudo do legado construtivo dos edifícios antigos e das tradições construtivas locais, mas o resultado constitui uma reinterpretação; a linguagem formal adapta algumas linhas contemporâneas, sem descurar uma boa integração no contexto urbano envolvente.

Casa das Gelosias
Casa das Gelosias

Onde podemos encontrar o atelier e a equipa?

O nosso atelier de Arquitectura localiza-se no Porto e a nossa equipa é constituída por três elementos regulares, em colaboração com outras equipas em regime de outsorcing.

Quais as áreas de especialização?

Realizamos vários tipos de projetos utilizando a metodologia BIM (Building Information Modeling), sendo esta uma das nossas áreas de especialização e de diferenciação. Trata-se de uma metodologia que conjuga a modelação 3D com a gestão de informação. Entre as inúmeras vantagens, está a possibilidade de a equipa de projecto (Arquitectos, Engenheiros e Dono de Obra) interagir utilizando o mesmo modelo virtual, promovendo respostas mais assertivas e mais rápidas às solicitações do projecto.

Outras áreas da nossa especialização são a Arquitectura Bioclimática e a Eficiência Energética de Edifícios, cujos princípios aplicamos em todos os nossos projetos.

BIM Nuvem Pontos | Marta Campos
BIM Nuvem Pontos | Marta Campos

Modelo BIM Existente | Marta Campos
Modelo BIM Existente | Marta Campos

Modelo BIM Proposta | Marta Campos
Modelo BIM Proposta | Marta Campos

Modelo BIM Especialidades | Marta Campos
Modelo BIM Especialidades | Marta Campos

Quais as principais características que marcam as vossas obras?

É difícil obter uma leitura critica distanciada e perfeitamente isente, mas diria que os projetos de reabilitação procuram sobretudo ser oportunos, no sentido em que se preocupam com uma adaptação ao lugar, feita com sentido de integração, mas também com sentido crítico.

Reabilitar para o conforto, é outro objetivo que valorizamos. A intervenção de reabilitação é uma excelente oportunidade para a reabilitação energética dos edifícios. No nosso portfólio a reabilitação do edifício designado Santa Helena parece-nos um ótimo resultado do esforço de conjugação entre a reabilitação e a reabilitação energética. Aliás, atingiu um excelente desempenho com classificação energética A e foi um dos nomeados no “Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2017” na “Categoria de Melhor Eficiência Energética”.

Santa Helena
Santa Helena

E, entre os projetos mais emblemáticos do vosso portfólio, quais destacariam?

O projecto da “Quinta em Catapeixe” e “Alegria 541” talvez sejam os mais emblemáticos e até agora talvez os mais conhecidos do nosso portfólio.

A “Quinta em Catapeixe” tem o privilégio do sítio, O Douro Vinhateiro. E aqui foi só permitir o edifício comunicar e ligar-se ao imaginário do local, deixando-se impregnar pelo ambiente. (Quinta em Catapeixe foi o vencedor do “Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2018” na Categoria de Edifícios Inferiores a 1000m2)

Quinta em Catapeixe
Quinta em Catapeixe

“Alegria 541” é um portentoso edifício burguês do séc. XIX do centro do Porto. Este projecto de intervenção pautou-se por intervenções cirúrgicas e um elevado esforço de coordenação das infraestruturas a inscrever de modo que se conseguir-se manter o esprito subjacente e ao mesmo tempo responder ao programa desejado de inscrição de vários apartamentos. (Alegria 541 foi um dos nomeados do “Prémio Nacional de Reabilitação Urbana 2017” na Categoria Residencial)

Alegria 541
Alegria 541

Destacaria ainda um outro projecto recente – D. João IV 541 - que nos deu enorme entusiasmo desenvolver por se tratar da reabilitação de um daqueles edifícios “menos felizes” que pontuam a cidade do Porto e que vieram em substituição dos edifícios antigos. O desafio de tornar este edifício acessível (com a inscrição de um elevador), energeticamente eficiente e com personalidade suficiente para que tivesse impacto positivo na zona onde se insere foi um exercício recompensador.

D. João IV
D. João IV

Cumprido um ano desde a chegada da Covid-19, qual têm sentido o impacto da pandemia no mercado da arquitetura? E, especificamente, na prática do vosso atelier?

A Arquitectura não foi das atividades que sentiu de imediato o impacto do contexto pandémico, no entanto, passado um ano do início da pandemia não posso estar tão segura que não o venha, ou esteja já, a sentir.

No nosso atelier o contexto atípico em que vivemos tem-nos obrigado a sucessivas adaptações no nosso trabalho que temos superado com espírito disponível e de missão. Os projetos que tínhamos angariado antes da pandemia não perderam ímpeto e continuaram o seu percurso. Continuamos inclusivamente a ser contactados para apresentar propostas de honorários. Contudo, desde o início deste ano, temos persentido que o mercado está a modificar-se de forma subtil e que o contexto da nossa concorrência direta parece ter modificado. Esta situação induz-me na leitura que muitos gabinetes de Arquitectura devem estar em já em esforço ou mesmo em modo “sobrevivência” o que se traduz na alteração do padrão da concorrência pré-covid. Esta situação é sensível, pois, não sendo os valores da prestação de serviços da Arquitectura tabelados, pode ter como consequência uma contração da atividade por implosão.

Atualmente, quantos projetos têm em carteira? E quais as perspetivas ao nível de novas encomendas para este ano?

Atualmente temos 7 projetos em carteira estando 3 deles já na reta final do Projecto de Execução. Estes projetos são todos investimentos privados e dispersam-se pela zona norte e centro de Portugal (Braga, Porto, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Meda).

As perspetivas de novas encomendas são cautelosas embora desejadas e necessárias.

Olhando para o estado atual do mercado imobiliário e da construção, onde identificam o maior potencial de crescimento em Portugal?

Nos últimos 4/5 anos houve um forte investimento no sector do Turismo e a reabilitação do edificado dos históricos beneficiou dessa tendência. No entanto, a excessiva aposta no turismo levou a um desequilíbrio na variedade da oferta do mercado imobiliário. A inesperada situação da pandemia cortou abruptamente o fluxo de visitantes que teve consequências avassaladoras para quem investiu nessa área, o que demonstra a fragilidade e suscetibilidade de investimentos uni-direcionados.

Na minha opinião a aposta na oferta de habitação de qualidade, integrada em contextos urbanos com boas infraestruturas urbanas/sociais e com espaços verdes generosos, que tragam o apport da qualidade de vida de proximidade, será uma área com potencial de investimento.

Nesta fase, o mercado continua muito voltado para a reabilitação e a regeneração urbana. A seu ver, qual é o papel do arquiteto nesse processo que, afinal, é uma prioridade a nível nacional?

A Arquitectura é a expressão direta do modo de vida de uma sociedade e é das construções do homem que melhor comunica com as gerações futuras o modo de ver e de se relacionar com o mundo dos seus ascendentes.

O papel do Arquiteto sempre foi o de dar expressão e resolver os problemas necessários para viabilizar o modo de vida pretendido. No entanto, reabilitar as construções do nosso passado é uma forma de perpetuar ainda mais a nossa cultura, e aqui o arquiteto tem um papel importantíssimo, pois está munido das ferramentas necessárias para, com sensibilidade, adaptar os edifícios aos requisitos atuais cuidando ainda que se mantenham a sua identidade.

Outra questão-chave e que é cada vez mais incontornável é a sustentabilidade do edificado, não só do ponto de vista energético, mas também ambiental e social. Como é que a arquitetura deve contribuir para este desígnio?

Arquitectura é uma disciplina de atuação multidisciplinar. Esta afirmação pode parecer um contrassenso, mas efetivamente a Arquitectura na sua realização tem o potencial do impacto multidisciplinar. E esse potencial acarreta uma enorme responsabilidade.

A Arquitectura no seu exercício deverá contribuir com a sua visão holística para assim se poderem tomar decisões com impacto orientado e desejado.

E, tendo em conta o estado atual do parque edificado nacional, quais devem ser as prioridades para o tornar mais sustentável?

O parque edificado nacional é responsável por cerca de 30% do consumo de energia nacional. É por isso muito importante incentivar a reabilitação energética dos edifícios para que a sua utilização com conforto não esteja tão dependente de excessivos consumos energéticos. Portugal é dos países da União Europeia que mais sofre de pobreza energética. Os edifícios não são eficientes energeticamente, e as famílias, por motivos económicos, são incapazes de suportar os gastos necessários para atingir o adequado aquecimento ou arrefecimento para atingirem o conforto térmico nas suas habitações.

Neste sentido a prioridade deverá ser incentivar e criar condições para reabilitar energeticamente o património construído existente.

Quando prescreve os materiais de construção, que características tem em consideração?

Produção Nacional, durabilidade e beleza estética.

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