Para quem ainda não conhece o nome do Atelier in.vitro, consegue eleger uma obra representativa do vosso trabalho?
É muito difícil escolher apenas uma obra porque todas representam uma parte do nosso trabalho. Posso eventualmente sugerir a Casa da Boavista, talvez por ser a minha casa, e por ter obrigado a um exercício minucioso de planeamento e de controlo de intervenção, uma vez que a maioria dos elementos se encontravam em muito bom estado de conservação e o orçamento para a realização da obra era baixo. Creio que o projecto demonstra o respeito que temos pelas pré-existências, sempre que estas o mereçam, naturalmente, e a atenção que damos ao detalhe, como forma de coordenar o novo desenho com o existente.
Onde podemos encontrar o atelier? Quais as áreas de especialização? E, neste momento, como é composta a equipa?
Estamos sedeados no Porto, na zona da Boavista, embora tenhamos trabalho em todo o país. Não creio que tenhamos uma área de especialização, mas temos trabalhado muito em reabilitação do património, área que nos interessa bastante. A equipa permanente é pequena, 3 a 4 pessoas, sendo que preferimos recorrer a apoios pontuais de parceiros quando precisamos de reforços. Faz parte da estratégia de crescimento sustentável do atelier.
Quais as principais características que marcam as vossas obras?
Tentamos não recorrer a receitas. O que funciona num projecto não funciona necessariamente noutro. Nesse sentido, tentamos compreender as necessidades e as expectativas dos clientes, do local ou edifício, no caso de se tratar de uma reabilitação, e procurar repostas específicas para cada projecto. Acima de tudo, é o facto de trabalharmos com muita atenção ao detalhe e com um grande respeito pelas pré-existências.
E, entre os projetos mais emblemáticos do vosso portfólio, quais destacariam?
As casas da Boavista, Pinheiro Manso e António Patrício, por terem sido premiadas, a intervenção no Palácio do Comércio por se tratar de um edifício emblemático da cidade do Porto, e a Casa Melo Leote, obra que terminou recentemente e que representa uma intervenção menos conservativa, pelo estado de conservação precário em que a casa se encontrava.
Cumprido um ano desde a chegada da Covid-19, como têm sentido o impacto da pandemia no mercado da arquitetura? E, especificamente, na prática do vosso atelier?
Apesar do sector da construção nunca ter parado durante este período, sentimos um abrandamento dos trabalhos durante o 2ºtrimestre do ano passado. As pessoas estavam receosas e ponderaram a continuidade de alguns investimentos ou o arranque de projectos futuros. Por outro lado, após os primeiros tempos, no 3º e 4ºtrimestre, as pessoas passaram a dar mais importância à casa. Como o âmbito do nosso trabalho é essencialmente na área habitacional, acabámos por sentir uma maior procura nessa altura.
Atualmente, quantos projetos têm em carteira (em que setores e em que localizações)? E quais as perspetivas ao nível de novas encomendas para este ano?
Temos cerca de 15 projectos em curso, em diferentes fases de projecto e obra. Curiosamente apenas cerca de 25% dos projectos, está localizado no Porto. Os restantes distribuem-se pelo país e temos um no Luxemburgo. Cerca de 75% dos projectos são investimentos privados e destes, apenas 50% é de habitação unifamiliar.
Olhando para o estado atual do mercado imobiliário e da construção, onde identificam o maior potencial de crescimento em Portugal?
Creio que grande parte continua a ser na reabilitação de património existente. O sector ligado à sustentabilidade também está em crescimento. O sector da habitação assume também um papel importante, agora com características ligeiramente diferentes em consequência da pandemia.
Nesta fase, o mercado continua muito voltado para a reabilitação e a regeneração urbana. A seu ver, qual é o papel do arquiteto nesse processo que, afinal, é uma prioridade a nível nacional?
O papel do arquitecto é fundamental neste tipo de intervenção. É importante que se analise as pré-existências com um olhar crítico. Não faz sentido manter só porque o edifício existe há uns anos. Há pré-existências com pouca qualidade construtiva ou que já foram de tal maneira adulteradas que não faz sentido serem mantidas. Por outro lado, também é importante que não se parta para a demolição indiscriminada só para se ter a liberdade de conceber um edifício novo. É preciso haver equilíbrio, e para que isso aconteça, é necessário haver um trabalho minucioso de inspecção e diagnóstico das pré-existências, tanto a nível arquitectónico, como a nível estrutural.
Outra questão-chave e que é cada vez mais incontornável é a sustentabilidade do edificado, não só do ponto de vista energético, mas também ambiental e social. Como é que a arquitetura deve contribuir para este desígnio?
É essencial que a arquitectura e o sector da construção, em geral, encontrem soluções que contribuam para uma redução do impacto ambiental, utilizando sistemas e materiais com menor emissão de dióxido de carbono, reduzindo a sua pegada ecológica e optando por materiais com um ciclo de vida maior. A reabilitação já é por si só uma forma de o conseguir, uma vez que reduz as demolições e reutiliza grande parte dos materiais. Mas ainda há muito para fazer. A questão social é também fundamental, sendo que a arquitectura tem o dever de melhorar as condições de habitabilidade das construções, melhorando as condições de vidas das pessoas.
E, tendo em conta o estado atual do parque edificado nacional, quais devem ser as prioridades para o tornar mais sustentável?
prioridade deverá ser manter o investimento no parque edificado existente, que necessita de intervenções de reabilitação, para que possa vir a servir de habitação para uma percentagem importante da população. É também importante que estas reabilitações sejam uma oportunidade para melhorar o comportamento dos edifícios a outros níveis, nomeadamente estrutural (sísmico) e de conforto térmico e acústico. É fundamental que exista investimento público nesta área nos próximos anos.
Quando prescreve os materiais de construção, que características tem em consideração?
Acima de tudo, tentamos ter em consideração a durabilidade, a resistência e a qualidade do material. Não nos interessa fazer arquitectura com prazos de validade curtos. Queremos desenhar edifícios que sejam intemporais, quer a nível de desenho, quer a nível de comportamento físico. Procuramos também escolher materiais locais, de produção nacional, sempre que possível e que se enquadrem nos projectos, quer pela sua localização, dimensão, orçamento e programa.
(Esta entrevista está escrita sem o novo acordo ortográfico)